quarta-feira, outubro 31, 2007

Calvário do Padre Júlio Lancelotti


Conheci o padre Júlio Lancelotti, em 1993, durante a criação do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente, em Barretos. Ele palestrou sobre a importância do tema. Na época, confesso, até nem reparei tanto na sua notoriedade. Mas para quem o conhece, sabe: o religioso não manifesta o desejo de ser famoso e sim em aumentar a adesão às causas dos oprimidos.
Só depois, lendo os jornais e assistindo a televisão pude perceber a importância deste sacerdote. Sempre ao lado das crianças abandonadas ou moradores de rua. Não me esqueço do episódio da morte de mendigos em São Paulo, em 2004, quando ele ajudou a coordenar as manifestações.
Também é inesquecível sua participação decisiva para pacificar menores em unidades da Febem. Governadores e secretários de segurança pública solicitaram a participação dele. Mas neste trabalho pastoral, ele fez muitos inimigos, e eles parecem vir a tona, com este escândalo.
Por isto, peço a todos, ceticismo ao assistir, ler ou ouvir alguma coisa. Principalmente, quando as noticias forem veiculadas em emissoras envolvidas numa equivocada guerra entre evangélicos e católicos. Às vezes, me dá impressão que desejam provocar algo que o Brasil não tem: divisões religiosas. Nenhum lugar do mundo há tanta liberdade de credo.
Os três acusadores do padre: Anderson Marcos Batista, Conceição Eletério e Evandro dos Santos Guimarães, deveriam ter suas vidas vasculhadas. E só depois de tudo apurado, chegar à colusão, se convém levar em conta o que dizem.
Mas há erros do padre: é condenável, o padre aceitar a chantagem, e pagá-la. Infelizmente, a biografia dele ficará machada até que seja explicada como um sacerdote consegue desembolsar tanto dinheiro assim. Se é que ele fez isto. Conheço a renda mensal de muitos padres e não bate com os valores divulgados no caso.
No final, espero que as bandeiras levantadas por Júlio Lancelotti não fiquem prejudicadas. Enquanto isso, os moradores de rua de São Paulo e menores internados na Febem, necessitam de apoio. Seja de quem for.

segunda-feira, outubro 29, 2007

De José Patrocínio à Heraldo Pereira



Achei bem divertido os meios de comunicação dar relevância à elevação de Heraldo Pereira como primeiro comentarista político do Telejornalismo. Pouca gente recorda de José do Patrocínio, um dos maiores jornalista políticos deste país. É um engano limitar sua atuação apenas ao abolicionismo: O coitado teve que fugir do Brasil, com a proclamação da República, por receio de morrer nas mãos daqueles que criticava: latifundiários, disfarçados de republicanos.
É mérito, vermos Heraldo, e até a Maria Júlia Coutinho, ex-TV Cultura, na Rede Globo. Mas é necessário vermos uma linha editorial, mais progressista, na maior emissora de televisão da América Latina. A oposição ferrenha da TV da Família Marinho, é inaceitável, principalmente na forma que as pautas são conduzidas: não há o mesmo espaço para as pessoas ou entidades que são à favor.
Mas isto já não assusta: basta pesquisar nos livros de História ou arquivos públicos, para checar nos jornais do período Pré Abolição, sobre o comportamento da Grande Imprensa.
Mesmo assim, parabéns à Heraldo e à Maria Júlia.

Elementar, meu caro Watson


Muitas pessoas no Mundo ficaram perplexas ao ouvir o cientista James Watson declarar-se pessimista sobre o resultado da aplicação de políticas públicas na África, por causa da suposta baixa inteligência dos negros. Ele falou isto em entrevista ao jornal The Sunday Times, baseado em testes, que não soube explicar quando e como e quantas pessoas foram submetidas. Para justificar sua opinião ele diz “esperava que todas as pessoas fossem iguais, mas que aqueles que têm de lidar com empregados negros não acham que isto seja verdade”.
As palavras não saíram da boca de qualquer um: é um geneticista norte-americano, que ao lado do cientista britânico Francis Crick, ganharam o Prêmio Nobel, em 1962, pela descoberta da estrutura do DNA.
É elementar, meu caro Watson, que todos os estudos nos ultimos 45 anos, provaram não haver diferenças na inteligência entre etnias, homens e mulheres ou classes sociais.
Não sou cientista, mas minha tese, é que a formação cultural do geneticista tenha uma boa carga de preconceito. As políticas sociais não dão certo na Africa, pois elas são ficticias: não são aplicadas. O dinheiro some no meio caminho. E conheço muitos empregados bem inteligentes, que não tem chance de provar seu papel.

terça-feira, outubro 16, 2007

Clara Nunes, a tal mineira




Na voz dela foram consagradas as músicas: Você passa eu acho graça, Conto de areia, Canto das três raças e Morena de Angola, dentre outras. Mas desde sua morte repentina, em 2 de abril de 1983, numa mesa de cirurgia, ninguém conseguiu ocupar o espaço artístico deixado por Clara Nunes na Música Popular Brasileira.
Ela nasceu em 12 de agosto de 1942 no interior de Minas Gerais no distrito de Cedro da Cachoeira. Logo na adolescência foi trabalhar numa fábrica quando participou do concurso A Voz do Ouro ABC, vencendo a etapa mineira e terceiro lugar na final, em São Paulo, 1960. A partir daí, conseguiu emprego na Rádio Inconfidência, onde teve um programa exclusivo na TV Itacolomi durante um ano e meio. Além disso, nesta época se apresentava em boates e casas noturnas de espetáculos da cidade onde viveu até 1964, quando mudou-se para o Rio de Janeiro.
O primeiro LP gravado, A voz adorável de Clara Nunes (1966), apresentou um repertório de conhecidos boleros e sambas-canções, mas foi um fracasso comercial. Só começou a cantar samba a partir do segundo, Você passa eu acho graça, em 1968, O primeiro espetáculo realizado foi Sabiá Sabiô, paralelamente à gravação do álbum Clara Clarice Clara, que trouxe canções de compositores de escola de samba e MPB, como Caetano Veloso e Dorival Caymmi .
Com o LP Alvorecer de 1974 obteve grande sucesso com a canção Conto de areia. Bateu recordes de vendagem, chegando a quinhentas mil cópias rompendo com o tabu de que cantora não vendia discos. Neste mesmo ano lançou o disco Brasileiro: profissão esperança, ao lado do ator Paulo Gracindo. Os discos que se seguiram a transformaram na maior intérprete de samba do Brasil. O disco seguinte Claridade (1975) vendeu ainda mais do que o anterior.


Alguns anos depois, pode-se observar um maior ecletismo no repertório, que incluiu baiões, baladas e até valsinhas, confirmando assim a grande versatilidade de intérprete, além das canções calcadas no tema do candomblé. A religião, e por características dela e por suas indumentárias características: vestidos longos brancos, colares e miçangas, de origem africana.Deixa clarear, Derramando lágrimas, dentre outras. O álbum mais vendido foi Brasil Mestiço que ultrapassou a marca de um milhão de cópias vendidas.
Morreu na madrugada de 2 de abril de 1983, prematuramente, aos 40 anos, depois de vinte e oito dias em coma: ela se internou na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, onde se submeteu a uma operação de varizes na perna esquerda. Sofreu parada cardíaca e paralisação da atividade cerebral, vítima de um choque anafilático.
O corpo foi velado na quadra da Escola de Samba Portela - uma de suas paixões - e sepultado no Cemitério São João Batista.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Cotas para negros: avanços e retrocessos.


Quando comecei a debater as cotas para negros nas páginas da Gazeta, em 2002, não esperava poder vislumbrar cinco anos depois as boas noticias sobre a implantação das Ações Afirmativas no Brasil. Na época, o único exemplo do ensino superior estava na Universidade Estadual da Bahia. Aqui, lutávamos para implantar a medida no Imesb e nos concursos públicos em Bebedouro. Deu certo, mas um dia, quando puder conto os bastidores, não foi fácil.
Agora temos cotas em muitas instituições públicas. A justificativa é simples: brancos com o mesmo nível de escolaridade de negros ganham até 40% a mais, em média, para funções equivalentes. É o que constatou o IBGE, a partir dos números de 2006. A média de remuneração dos brancos fica em torno de 3,4 salários mínimos, enquanto que a de negros e pardos não passa de 1,8. A participação de negros e pardos na parcela que representa o 1% mais rico da população brasileira é de apenas 12,4%. Já entre os 10% mais pobres, chega a 73,2%.
E a legalidade jurídica é amparada Ação afirmativa por várias as iniciativas públicas, através de leis, que propiciaram benefícios às pessoas portadoras de deficiência física. Sem esquecer das cotas de 30% das mulheres nas candidaturas.
No livro “Curso de Direito Constitucional Positivo” o jurista Jose Afonsa da Silva argumenta, “É precisamente no Estado Democrático de Direito que se ressalta a relevância da lei, pois ele não pode ficar limitado a um conceito de lei como o que imperou no estado de Direito Clássico; precisa influir na realidade social, impondo mudanças sociais democráticas”.
Porém, vejo perigo na implantação da UNB, Brasília. Lá inventaram um equivocado sistema de decidir a etnia por fotos. Absurdo. Agora mudaram para uma comissão que entrevistara os vestibulandos, candidatos às cotas. Algo semelhante só li no nazismo. A melhor atitude seria a auto-afirmação, ou seja, vale o que o cidadão se declarar no ato da inscrição. Pode ter malandragem? Talvez, mas temos uma legislação para punir que ache “oportuno” se passar por negro.