quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ângela Davis




O nome verdadeiro é Ângela Yvonne Davis, nascida no dia 26 de janeiro de 1944, em Birmingham, estado do Alabama. O fato que a tornou famosa, já aconteceu há quase 36 anos, em Marin County, estado da Califórnia, dia 7 de agosto de 1970. Ela foi acusada de fornecer as armas usadas pelos militantes dos Panteras Negras, no protestos que fizeram da Assembléia Legislativa daquele estado.
Desde pequena Ângela revelou um alto grau de inteligência, e após a destacar-se já no colegial conseguindo uma bolsa de estudo para estudar Literatura Francesa, em Nova Iorque, ficando hospedada na casa de um pastor branco progressista, em 1959. Em 1960, foi até Frankfurt, Alemanha, onde ficou dois anos, sendo aluno dos reconhecidos professores Theodor Adoro e Oscar Negt. Depois, entre 1963 a 1964, ela foi privilegiada com aulas em Paris, na escola de Sorbonne, onde curso Literatura.
No retorno aos Estados Unidos, Davis ainda continuou estudando, entrando na conceituada Universidade Brandeis, estado de Massachusetts, para fazer Filosofia. Terminado o curso ela retornou a Alemanha para fazer pesquisa de mestrado que fazia na Universidade de Califórnia, em San Diego, conseguindo o feito em 1968.
Por influencia de um professor, Herbert Marcuse, Ângela filiou-se ao Partido Comunista dos Estados Unidos. Sim, até lá existia a legenda, entretanto seus militantes eram perseguidos, devido ao clima da Guerra Fria com a União Soviética. O ano era 1969, e ela acabou sendo discriminada na universidade, controlada por anti-comunista, sendo arbitrariamente proibida de ministrar aulas.
A atitude deixou Ângela, revoltada, que acabou aumentando sua ligação com a militância política, onde passou a militar no SNCC Student Nonviolent Coordinating Committee (Comitê Conjunto de Não Violência dos Estudantes). Depois se tornou simpatizante do grupo político e social de combate ao racismo, Panteras Negras. O grupo foi uma opção atraente para ela, pois não tinha uma abordagem machista junto as militantes, diferente de outras organizações afro-americanas. Além disso, os Blacks Panthers, tinha uma ideologia de esquerda, a mesma que a dela.
Mas os Panteras Negras estavam se tornando um grupo muito forte e ramificado nos Estados Unidos. Principalmente na sua postura contra a violência policial, onde defendiam pessoas negras de policiais racistas e outros grupos armados. Pressionados por setores conversadores e pelo então governador Ronald Reagan, a Assembléia Legislativa da Califórnia, discutia em agosto de 1970 a aprovação da lei Mulford – que proibiram que os cidadãos pudessem portar armas nas ruas. O projeto era direcionado sob medida para desarmar os Panteras Negras.
Os líderes do grupo Bob Seale e Huey Newton decidiram pacificamente até o prédio da Assembléia californiana e discutir com os deputados estaduais o projeto de lei, expondo seus pontos de vistas e iriam propor emendas ou a não aprovação dele. No comando de 29 militantes, Bob tomou um caminho errado nos corredores do local, e acabou entrando no plenário. Imediatamente favoráveis à proibição, aproveitaram da ocasião para acusá-los de tentar intimidar o Poder Legislativo, pois estavam portando armas naquele local. Todos foram detidos, por seis meses.
O FBI que tinha como diretor o anticomunista e segregacionista Edgard Hoover, enxergou na ocasião uma chance de desqualificar e desmantelar os Panteras Negras. Acusaram a organização de ser subversiva ao Governo Norte-Americano, e acusaram Ângela Davis, de ser uma das mentoras da invasão ao plenário da Assembléia da Califórnia. Ela ainda tentou se esconder, até que fosse provada sua inocência, mas foi capturada pelo FBI e teve que amargar 17 meses na prisão.
Porém neste momento, Ângela Davis já tinha se tornado uma grande liderança feminina negra e aproximadamente 30 minutos após sua detenção na Casa das Mulheres de Detenção, em Nova Iorque, uma multidão de 300 pessoas, foram defronte ao local, prestar-lhe solidariedade e pressionar as autoridades por suas liberdade. Dentro da cela, as outras mulheres lá detidas, também se manifestaram em apoio a ela, numa atitude que assustou inclusive o FBI, devido a popularidade.
Imediatamente foi criado um Movimento Internacional pela Libertação de Ângela Davis e outros líderes dos Black Panthers. Personalidades como o cantor John Lennon, o líder cubano Fidel Castro, os intelectuais Jean Paul Sartre e Jean Genet e inclusive o famoso maestro Leonard Bernstein, que fazia apresentações com a finalidade de arrecadar fundos para financiar o pagamento dos advogados dos acusados. E mesmo Davis, dentro da cela, conseguiu com contribuições de militantes formar uma biblioteca jurídica que usou para ajudar a formular sua defesa nos tribunais.
Seu julgamento foi um dos maiores emocionantes dos Estados Unidos, onde obteve finalmente a sentença de inocência diante da falta de provas do FBI, em junho de 1972. E isso aconteceu mesmo com um júri composto inteiramente por brancos, sendo sete homens e apenas duas mulheres. No mesmo ano foi recebida pelo alto comando do Kremlin, União Soviética, que também participou da campanha internacional pela libertação dela. Em 1980, fez um ato inédito e audacioso – candidatou-se à vice-presidente dos Estados Unidos pelo Partido Comunista.
Atualmente, Ângela é professora do Departamento de História da Universidade da Califórnia, a mesma que a lhe negará a chance no passado. Continua sua militância política de combate ao racismo e na defesa dos direitos das mulheres. Já este no Brasil por diversas vezes, convidada por organizações-não-governamentais de mulheres negras.
Além disso, a filosofa Davi, é escritora dos livros: Women, Race and Class (Mulheres, Classe e Raça) – sobre o movimento feminista; If They Come in The Morning: Voice Of Resistence (Quando Vier o Amanhecer: Vozes da Resistência) – que traz uma análise marxista da opressão racial dos Estados Unidos e o ultimo é Blues Legacies And Black Feminism (O legado do Blues e o Feminismo Negro) – que retrata a contribuição das mulheres negras do inicio do século 20 para o feminismo, principalmente através de cantoras como Billie Holiday e Bessie Smith.

terça-feira, janeiro 24, 2006

REVOLTA DOS MALÊS



É noite e os homens vão chegando, no porão de uma bela casa, localizada na ladeira da Praça. Todos entram murmurando baixinho e cordialmente: As-Salamm-Alaikum e ouvindo como resposta: Wa-Alaikum-Salaam. É lá que Manoel Calafate reúne negros libertos ou escravizados, para iniciá-los nos ensinamentos do Alcorão e prepará-los para uma batalha pela liberdade. Será a maior revolta urbana de negros. Entretanto, eles não sabem, mas todos os planos já foram delatados para as autoridades policiais. Em pouco tempo, ao invés de lutar pelo povo negro mulçumano, terão primeiro que manter a própria vida.
A Revolta dos Malês, assim denominada pelo senhores de escravos e seus historiadores, foi na verdade uma Grande Insurreição Urbana Negra e Mulçumana ocorrida no dia 25 de janeiro de 1835, é dos episódios mais importante e pouco divulgados da História do Brasil. Mostra não só a força e estratégia da população negra, onde fielmente é retratada a resistência daqueles que eram islamizados ao Sistema de Escravidão.

Osman Dan Fódio
Mas ela começa anos atrás e em outra latitude e longitude – no Sudão. Naquele país já assolado pela escravização do povo, um líder religioso lançou uma Jihad – uma guerra santa, iniciada em 1804. Ele era Osman Dan Fódio. Ele nasceu em 1754, na cidade Godir e era um fervoroso seguidor de Maomé.
Numa luta contra a decadência da sociedade sudanesa, Osman, lança com um exercito de seguidores uma batalha de implantação do Islamismo, que tem inclusive a promessa de acabar com o envio de mulçumanos ao regime de escravidão no continente americano. Muitos hauças que estavam no Brasil tinham feito parte dos seguidores de Osman Dan Fódio, que também decretaram em solo brasileiro uma Jihad contra o sistema de escravidão brasileiro, um colocaram como meta a conversão de negros à fé em Alá.

Independência do Haiti
Outro fato influenciador para a Grande Insurreição foi à vitória dos negros no Haiti, em 1804, que após uma guerra, vencerá até as treinadas tropas de Napoleão Bonaparte. Os relatos chegaram ao Brasil através de marinheiros e alarmou os senhores de escravos. Sem também esquecer a ainda forte presença da coragem dos moradores da extinta República de Palmares, que conseguiram por 100 anos resistir à escravidão.

Revoltas de 1807 e 1813
Com todos estes fatores, o clima nas senzalas estava esperançoso como nunca, de uma união de todas etnias africanas, para rebentar com os elos das correntes que os prendiam. E assim aconteceram com muitas tentativas de estabelecimento da liberdade. A primeira ocorre em 1807, no dia 26 de maio, quando uma rebelião negra hauças, dirigida por mulçumanos é reprimida, depois da delação do movimento. Eles se rearticulam para na madrugada do dia 28 de fevereiro de 1813, num grupo de seiscentos negros, com a meta de conquistar a capital – Salvador. Na cidade de Itapoã, onde são detidos por fazendeiros e a força policial.
No mesmo ano, um outro grupo, tentou novamente tomar a capital baiana, no dia 24 de junho – aproveitando-se a grande festa de São João, que deixavam as defesas da cidade relaxadas. Mas foram delatados, por um dos integrantes um negro hauça, de nome João, por uma motivação egoísta: estava descontente, pois queria que a rebelião fosse deflagrada no dia 10 de junho. 39 pessoas foram detidas, em um processo que terminou em 1814. Resultados – doze faleceram nas péssimas condições das prisões, quatro foram enforcados na praça da Piedade, em 18 de novembro e o restante degredado para Angola, Bengala e Moçambique.

Insurreição em 1830
No ano de 1830, com outra tentativa frustrada de rebelião negra, no dia 10 de abril. Primeiramente um grupo de negros escravizados, conseguiu se articular e realizaram um ataque surpresa a uma loja de armas, na ladeira da Fonte das Pedras, em Salvador. Após dominar o proprietário, Francisco José Tupinambá, conseguem doze espadas. Depois foram em direção a Casa de Ferragens, mas são detidos no caminho, por senhores de escravos e seus funcionários, armados de bacamartes e espadas.
Estrategicamente eles recuam e se refugiam dentro de uma casa. Refeitos do susto, se reagrupam e atacam uma outra casa de ferragem e adquirem mais armas. Com a repercussão da vitória, pessoas escravizadas acabam aderindo e somando-se ao grupo rebelde, chegando num total de 100 integrantes.
Com esse numero de guerreiros, o grupo tenta tomar uma base da policia, onde estavam sete soldados e um sargento. Pegos de surpresa, os guardas são derrotados. Mas os fazendeiros, com seus empregados unem-se a outro grupo de policiais, que bem armados, conseguem derrotar o grupo de rebeldes, matando 50, fazendo 41 prisioneiros. No final: são apontados como líderes os afro-brasileiros Nicolau e Francisco e são condenados a 400 chicotadas, divididas em 50 açoites diários.

A Grande Insurreição de 1835
Portanto, quando chegam em 1835, já há muito experiência e grau de preparação é grande, para evitar erros e enfim tomar a cidade de Salvador. Mas a motivação é religiosa: uma guerra santa contra os brancos cristãos e a conversão de negros para a crença em Alá.
A organização foi feita com meses de antecedência onde os lideres, formaram coordenadores, encarregados e percorrer a zona rural e conseguir a adesão fr mais negros. Havia ainda um clube secreto em Vitória, nos fundos da casa de um inglês de nome Abrão.
Em Salvador os pontos de reuniões eram as casas de Belchior da Silva Cunha, Pacifico Licutã, Manuel Calafate, Elesbão Dandará e Luís Sanim, entre outras.O grupo rebelde foi estrategicamente ramificado entre as Calafate, Belchior, Sanim, Dandará e Licutã e do outro lado outros negros dirigidos por Jamil, Diego e James – formado dois núcleos. Eles ainda contavam com um fundo de financiamento que chegou a quase 80 mil réis, recolhidos entre os simpatizantes da causa.
Mas como uma verdadeira Jihad, era necessária a coordenação religiosa de um grande muláh. Esse papel foi exercido por um dos personagens mais misteriosos da insurreição: Ahuna. Era um nagô, de aproximadamente 40 anos, que tinha no rosto quatro sinais étnicos. Tinha o respeito de todos os outros líderes, por sua coragem e fé em Alá. Nos relatos oficiais, todos os interrogados sob tortura, refeririam como Ahuna como o comandante máximo da revolta. Mas não há muitas informações precisas sobre sua identidade. O pouco que se sabe é sua moradia – uma habitação na região do Pelourinho, e que teria ido até o Recôncavo para conseguir adeptos a causa.
O plano era extremamente elaborado: um grupo partiria de Vitória, conquistando território e matando os brancos que resistissem. Este grupo ainda estava encarregado de ir a direção a Salvador, passando por Água dos Meninos, e em seguida, marchar para Itapagipe, conseguindo adesão de pessoas escravizadas. Chegando na capital baiana, se uniriam aos grupos rebeldes dentro da cidade, onde ao sinal de um foguete a ser lançado, cairiam sobre as forças policiais, e destituir as autoridades.
A proposta tinha uma grave falha: era direcionado apenas para os negros convertidos para o Islamismo. Entre as medidas extremas estava previsto inclusive o assassinato das pessoas que se recusavam a se converter e a transformação dos “infiéis” em escravos novamente. Uma verdadeira perversão do Alcorão, e um perigo para os africanos de outras etnias que se recusavam optar por esta situação: deixar a submissão ao branco e cristão, para serem subjugados por africanos maometanos.
Com base neste defeito na estratégia, aliado a falta de armamento condizente para enfrentar as forças policiais e os senhores de escravos, e o medo de outros negros, novamente a tentativa de revolução foi detida por uma traição. A acusada é a liberta Guilhermina Rosa de Souza, que procurou um negociante de escravo, André Pinto de Silveira, no dia 24 de janeiro – na véspera. Este avisou o chefe da policia Francisco Gonçalves Martins, que com base nas informações de Guilhermina foi a todos os locais de concentração rebeldes com seus soldados aliados por uma milícia armada de brancos e prendeu alguns lideres, para desmantelar o plano.
Avisado por espiões, os lideres resolveram por em andamento o plano na noite do dia 24 de janeiro. Da casa de Calafate, já partiu para o dar a vida em nome dos companheiros e de Ala. A coragem era explicada pela crença de somente os corajosos, poderem entrar no paraíso mulçumano. Foram até o local, onde Pacifico Lucitã estava preso, mas devido à resistência dos policiais, recuaram. Mas Chegando no Largo do Teatro, conseguiram fazer recuar os policiais, desta vez.
Na cidade baixa, próxima a praia, os guerreiros, alguns vestidos de roupas vermelhas e turbantes, travaram seu embate definitivo com os policiais. De um lado o próprio chefe dos guardas, Francisco e do outro Ahuna com seus guerrilheiros mulçumanos. Defronte ao Forte de São Pedro se atracaram. Com o uso da cavalaria, previamente acionada, os policiais venceram, e mataram 40 pessoas negras. Outros ainda tentaram fugir, nadando, mas no mar a espera deles, estava uma fragata, que carregada de soldados, massacrou muitos a tiro e a golpes de espadas. Por muitos dias depois as ondas nas praias de Salvador, trouxeram corpos desses guerreiros.
Cercado os grupos rebeldes, todos foram encarcerados. No total 281 pessoas, inclusive com inocente entre os detentos. Muitos foram condenados a centenas de açoites e outros degredados para África. Foram sentenciados a forca: Jorge da Cunha Babosa, Jose Francisco Gonçalves, que eram libertos, junto com os escravizados Gonçalo, Joaquim e Pedro. Mas as autoridades não encontraram ninguém com coragem de enforcá-los, sendo obrigados a fuzilá-los, honra só permitida a brancos.
A cidade nunca esqueceu dessa batalha. Em 1844 uma outra tentativa foi tentada por Francisco Lisboa e Marcelino de Santa Escolástica, sobreviventes da Grande Insurreição de 1835. Mas também foram delatados, desta vez, pela mulher de Francisco.

O que significa Male?
Na verdade ainda é um grande mistério o termo. Os hauças mulçumanos, se auto identificavam musulmi. Mas segundo o escritor Braz do Amaral, o nome deve ser derivado da palavra Má-lei, ou seja, escravo contra a legislação, rebelde.
Francisco Nina Rodrigues julgava que o male vem de mulçumanos negros de Mali, um reino de Niger, como descreve em seu livro Africanos do Brasil. O que é refutado por outros sociólogos, pois a revolta foi mulçumana, mas não só de uma etnia africana.

Luiza Mahin
Exceto através das declarações do advogado abolicionista Luiz Gama, não há muita informação sobre a participação de Luíza Mahin na Revolta dos Malês. Há indícios de que esta estaria ligada ao grupo de Manuel Calafate, mas que teria escapado entre os sobreviventes. Não lhe é creditada a liderança, em nenhum dos depoimentos colhidos pela Policia, mas é bom salientar que de forma honrosa, os interrogados não delataram os companheiros, mesmo sob forte tortura.Luiza seria uma nagô, da Costa da Mina, da etnia jejê, nascida livre em 1812. No período da Grande Insurreição de 1835, trabalhava como quitandeira, e por isso, era uma das pessoas que ajudavam a convidar pessoas para a causa mulçumana. A ultima informação de Gama sobre ela, que era sua mãe, é que ela teria saído de Salvador em direção ao Rio de Janeiro. Há teorias de que ela possa ter participado de outras insurreições e teria sido ou morta ou degredada, mas sem confirmação oficial, através de documentos

terça-feira, janeiro 17, 2006

PATRICE EMERY LUMUMBA – PAI DA INDEPENDÊNCIA DO CONGO



Uma das provas incontestáveis da ingerência dos Estados Unidos no continente africano, e são responsáveis pela atual situação de miséria e crise que vários países passam hoje é a biografia do líder congolês Patrice Emery Lumumba. Morto no dia 18 de janeiro de 1961, numa ação apoiada pelos americanos, a Congo, teve que suportar décadas de ditaduras e corrupção.

Historia do Congo ColonialNo final do século XIX, a região da bacia do rio Congo fazia parte dos domínios africanos do monarca belga Leopoldo II, “doadas”, durante a Conferencia de Berlim, entre 1884 a 1885, para a Bélgica. Mas desde 1830, europeus, principalmente os alemães já estavam procurando no Congo, minérios e pedras preciosas.
Um dos mais célebres exploradores do país de Lumumba foi o rei belga, Leopoldo II. Quanto mais o país ficava pobre, mais ele ficava rico, apesar de investir na construção de cidade e m urbanização das metrópoles congolesas. Outra iniciativa dos belgas foi à construção de escolas primárias e secundárias, que por outro lado oprimiam o povo, com o ensino eurocentrista.

Nasce Patrice LumumbaPatrice nasceu no dia 2 de julho de 1925, no povoado de Sancuru, uma província de Kasai, interior do Congo. Era membro da tribo Batetela, uma das mais pobres do país, apesar de muito grande e forte culturalmente.
Patrice foi alfabetizado inicialmente em uma escola protestante. Depois, passou a trabalhar no Porto Kindu-Empain, onde se tornou ativo de um grupo de africanos intelectuais. No mesmo período passou a escrever ensaios e poemas em jornais congoleses.
Depois Lumumba foi formar em Kinshasa, devido um trabalho obtido no correio, e logo depois de um esforço e muito estudo, tornou-se contador em Kisangani. Mesmo assim, nunca abandonou a paixão pelo jornalismo e continuou a escrever artigos.
Em 1955 Lumumba assumiu a gerencia de uma empresa de comercio congolesa. No mesmo período, entrou em contato e se filiou ao PLB - Partido Liberal Belga no Congo. Embora a plataforma da legenda não tivesse uma proposta para a independência do país, o PLB, era a única alternativa de oposição consistente.

Luta pela Independência
Mas suas idéias e artigos forma classificados como subversivos, e após uma viagem a Bélgica, Lumumba, foi detido, julgado e condenado a 1 ano e meio de prisão, com suspeita de planejar a queda do governo e libertação do país.
Logo que saiu da prisão, Lumumba formou a consciência crítica de que era necessário criar um novo partido político. E m outubro de 1958, nasce o MNC – Movimento Nacional Congolês. Seria esta a primeira legenda com representação nacional no. Em dezembro, daquele mesmo ano foi a uma conferencia em Accra, cidade Ghana, onde conheceu outros africanos partidários de processos de libertação de seus países. Neste contato Lumumba se inspirou para um pan-africanismo.
Em 1959 os belgas percebendo o que acontecia nos países vizinhos, resolveram, eles coordenar saída do Congo e motivados pela negativa repercussão da repressão violenta de manifestação pública do povo congolês, com saldo de 40 mortos. Mas Lumumba e outros nacionalistas desconfiavam do processo, que poderia deixar no poder, um político facilmente manipulado pelos europeus.
Por isso tudo, o MNC, resolveu boicotar as eleições a serem realizadas em dezembro de 1960, através de um boicote pacifico. Não fez diferente para as autoridades belgas, que reprimiram os manifestantes com brutalidade e em Stanleyville, mataram mais de 30 pessoas, e prenderam centenas de pessoas, incluindo Lumumba.
Depois de uma avaliação, a direção do MNC decidiu-se mudar a tática e participar das eleições. A decisão foi acertada, pois obtiveram nas urnas, em Stanleyville 90% dos votos.
Na verdade a nação nasceu dividida em duas distintas visões de políticas. Lumumba defendia o não alinhamento com nenhuma das grandes potencias: Estados Unidos e União Soviética, e um forte investimento nos setores sociais, para diminuição da pobreza, geração de renda e tinha uma proposta de um Congo de uma única nação, sem as eternas brigas tribais. Era uma visão mais socialista de governo. O líder tinha a seu lado o partido MNC – Movimento Nacional Congolês, fundado por ele em 1958 e era admirado pela população por sua coragem.
Joseph Kasavubu, outra liderança do Congo era um militar graduado, formado ideologicamente, por belgas e norte-americanos. Queria um governo central, quase ditatorial e subordinado aos interesses dos Estados Unidos e da Europa. Sua visão de desenvolvimento visava controlar a pobreza e a formação de uma classe dirigente congolesa, fiel a seus interesses. Joseph tinha as forças armadas de seu lado e era temido pelo povo.
Em janeiro de 1960, o governo belga reuniu uma conferência em Bruxelas, com todos os partidos de congoleses, para negociar o processo de independência do país. Entretanto um dos responsáveis por este momento estava preso e seu partido, o MNC, decidiu boicotar as reuniões, até que Lumumba fosse solto.
Patrice Lumumba foi liberado da prisão e viajou até Bruxelas, para participar da conferencia, onde negociou que em maio haveria eleições nacionais para o Poder Legislativo e no dia 30 de junho, finalmente a independência política do Congo. E apesar do número enorme de partidos, o MNC saiu com o maior número de cadeiras e Lumumba, foi eleito primeiro-ministro. Tentaram impedir que Lumumba assumisse, mas a conspiração fracassou.

Patrice Lumumba – primeiro ministro do Congo
Na cerimônia de independência, Lumumba fez um discurso criticando a Bélgica e os anos de exploração colonialista. Na cerimônia da independência, na presença do rei Balduino, "em vez de incensar o colonizador e a sua 'obra civilizadora', recordou os sofrimentos do seu povo", afirmou a vontade de fazer do Congo um país livre e soberano com o povo a decidir o seu próprio destino, informou da decisão de retirar de imediato aos belgas o controlo da economia congolesa. Além disso, assustou os belgas, saber que o poder de decisão do novo país estava concentrado nas mãos de Patrice, como primeiro-ministro e não de Kasavubu, leal parceiro deles, eleito presidente.
Mas as ingerências da Bélgica, só aumentaram com a recém autonomia política do país. Cinco dias após a independência, um motim militar em protesto pela permanência de oficiais belgas no país resultou na morte de cidadãos europeus e no desembarque de tropas da Bélgica na província de Katanga, rica em recursos minerais e centro dos interesses comerciais da antiga metrópole no Congo. Depois, no dia 11 de Julho, Tshombé - apoiado por grupos financeiros belgas - proclama a secessão da província de Katanga, rica nomeadamente em cobre e cobalto. O governo francês, que considera Lumumba "um perigoso agitador próximo de Moscou", apóia Tshombé.
Na semana anterior ocorrera, estimulada por Mobutu, a revolta da guarnição de Thysville e um mês depois o Kasai do Sul segue o exemplo do Katanga. Lumumba ordena uma ofensiva militar contra os separatistas do Kasai do Sul. Os soldados, obedecendo a ordens diretas de Mobutu, provocam um banho de sangue entre a população. O massacre provoca a indignação nacional e internacional e Lumumba é apresentado como o responsável.
Sem alternativas, Lumumba, solicitou inicialmente ajuda da ONU, para intermediar a saída das tropas belgas, para assim tirar apoio de Katanga. Mas só foi enviada uma força de emergência, com 19 mil soldados, capacetes azuis, que não interferem decisivamente na situação, pois essa era a orientação do Conselho de Segurança, controlado pelos americanos. O primeiro-ministro tentou ainda apoio a União Soviética e outros paises africanos de orientação socialista.
A atitude acendeu uma luz vermelha nos gabinetes dos países europeus e em Washington. Mobutu no prosseguimento do seu plano concebido com a CIA procede a uma intensa ação de desmoralização do governo e de Patrice Lumumba e a 5 de Setembro o presidente Kasavubu, obedecendo a ordens da Embaixada dos EUA, destitui o Primeiro Ministro eleito. Lumumba não acata a decisão, mas tem contra ele os governos dos EUA, da França, da Bélgica, além da ONU... Os "capacetes azuis" ocupam a Rádio Nacional de forma a impedir que Lumumba se dirija ao povo e impedem as tropas que lhe são leais de chegar à capital.Era período da Guerra Fria, e temendo um alinhamento da República do Congo, com o Bloco Comunista. Imediatamente os americanos negociaram com o grupo de sustentação de Joseph Kasavubu, o presidente, a saída de Lumumba do governo. E no dia 7 de setembro, ele foi destituído do cargo de primeiro-ministro.

Surge Mobutu Sesse LekoQuem era Josefo Disere Mobutu? Ele era um militar e jornalista do exercito do Congo, formado na Bélgica. Influenciado pela riqueza que assistiu no país e fazendo amizade com políticos belgas, tornou-se um aliado estratégico.
Apesar disso, sua inteligência atraiu a confiança de Patrice, que o tornou seu assessor direto. Sem saber, Lumumba, acabou ajudando a colocar no mundo político do Congo, seu futuro algoz e um dos maiores duradouros ditadores africanos. Outro que cometeu este erro foi o presidente Kasavubu, que nomeou Mobutu, para Diretor do Exercito.
Comandando o exercito, fez umas carreiras meteóricas, assumindo depois o ministério da defesa e a chefia do estado maior do Congo. Criando uma situação ideal para um golpe, Mobutu o faz no dia 13 de Setembro e tem como conseqüência imediata à deposição de Kasavubu e de Lumumba.
Como primeiro ato, o ditador, mandou prender o primeiro ministro Lumumba em Thysville. Patrice fica com residência fixa, vigiado por tropas da ONU e começa, desde logo, a preparar a sua fuga que virá a concretizar em fins de Novembro. É seu objetivo chegar a Stanleyville, a sua cidade, onde conta com apoios que lhe permitirão estar em segurança e relançar a atividade. Mas a viagem, que deveria ser discreta e rápida, transforma-se numa lenta caminhada triunfal, com milhares de pessoas obrigando-o a parar e a falar-lhes.
Em 2 de Dezembro é preso pelas tropas de Mobutu (graças à preciosa ajuda do Embaixador dos EUA, Clare Templeton) e reenviado para a capital. É conduzido à residência de Mobutu na presença do qual é agredido, torturado, obrigado a engolir um comunicado onde se afirmava chefe do governo legal do Congo. "Batam-lhe, mas não o matem", ia dizendo Mobutu.Dali é conduzido à base militar de Thysville. Mas, receando que ele persuada os soldados a libertá-lo, decidem transferi-lo para um lugar seguro: Katanga.

Assassinato de Patrice LumumbaDepois de sadicamente humilhado e torturado durante a viagem, foi entregue aos homens de Tshombé. Mobutu autorizou o assassinato dele em Elisabethville, em conjunto com o membro do partido UDPS – União pela Democracia e Progresso Social, Etienne Thsiekedi . A ordem foi executada no dia 17 de Janeiro de 1961 é levado para a floresta e assassinado, junto com seus companheiros Mpolo e Okito. O corpo foi dissolvido com ácido sulfúrico e seus ossos guardados como premio por Tshome.
O assassinato foi um escândalo nacional, repercutindo no mundo. Mobutu cinicamente proclamou Patrice Lumumba – um herói nacional. Mas ninguém se enganava, o ditador tirou assim do caminho a única pessoa que poderia articular em torno de si, a oposição e a resistência a suas medidas.
A Bélgica manifestou em 2002, "sincero pesar" pelo assassinato, em 1961, de Patrice Lumumba - o primeiro e único líder eleito democraticamente no país da África Central conhecido hoje como República Democrática do Congo.
"O governo sente que deveria estender à família de Patrice Lumumba e ao povo congolês seu profundo e sincero pesar e suas desculpas pela dor causada", afirmou o ministro do Exterior belga, Louis Michel. O ministro participou de um debate no Parlamento, que discute se a Bélgica - que tinha o Congo como uma de suas colônias - deve assumir a responsabilidade moral pelo assassinato.
A responsabilidade pela morte de Patrice Lumumba foi atribuída a congoleses ligados aos serviços de inteligência americanos e à Bélgica.
Há dois anos, um livro acusou a Bélgica de ter fornecido a logística para os autores do assassinato. Recentemente uma comissão parlamentar concluiu que Lumumba não poderia ter sido assassinado sem a cumplicidade de oficiais belgas, apoiados pela Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA.
O filho de Patrice Lumumba, Francis, que é líder da oposição no Congo, viajou até Bruxelas para participar do debate.
Também foi desvendado que naqueles meses quentes de meados de 1960 funciona, a partir da embaixada dos EUA, uma ampla rede de agentes da CIA dirigida por Larry Devlin. Entre eles destacam-se Franck Carlucci e Joachim Maitre. Carlucci era um indivíduo de origem alemã que, posteriormente, participou em várias missões especiais dirigidas por Oliver North: ao lado dos "contra" na Nicarágua, depois ao lado dos mujhadins afegãos, depois em Angola ao serviço de Savimbi.
Com estreitas ligações e muita influência na CIA, destaca-se igualmente o norte americano Maurice Tempelsman, poderoso negociante de diamantes que, na altura, tem a trabalhar para si dois advogados cheios de futuro: Stevenson (que viria a ser embaixador dos EUA na ONU) e Sorensen (que viria a ser conselheiro de Kennedy).
A tarefa que eles têm é a de eliminar Lumumba, inverter o curso dos acontecimentos no Congo e instalar os interesses do imperialismo norte americano naquele riquíssimo país. É nesse espaço que se movimenta também Mobutu, que acumula as ligações à CIA com a condição de agente dos serviços secretos belgas - e que, entretanto, aderira ao Movimento Nacional Congolês. Lumumba ingenuamente nomeia-o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e, dias depois, chefe do Estado Maior das Forças Armadas.
Congo sem Lumumba – Anos de Ditadura
Após a derrota do movimento secessionista da província de Katanga (que passou a denominar-se Shaba), em janeiro de 1963, seguiu-se período marcado por novos conflitos internos. Moises Tschombé foi nomeado Primeiro-Ministro no governo então formado pelo Presidente Kasavubu. Em 1965, Tschombé foi destituído, o que gerou nova crise política, parcialmente resolvida por um golpe militar liderado pelo Coronel Joseph Desiré Mobutu.
A assunção do governo pelo Coronel Joseph Desiré Mobutu em 1965, apoiado pelos Estados Unidos e França, levou à relativa pacificação do país e à consolidação da independência. Mobutu fundou o Mouvement Populaire de la Révolution (MPR), partido único que viria a constituir a base política de sua longa permanência no poder. Em 1971, como parte do programa de "africanização" adotado, o país passou a denominar-se "República do Zaire". O Presidente, rebatizado de "Mobutu Sesse Seko", seria reeleito, sem oposição, para três mandatos de sete anos, em 1970, 77 e 84.
Perto de completar seu terceiro mandato, Mobutu anunciou, em abril de 1990, reformas liberalizantes que marcaram o início da chamada "III República". Em primeiro lugar, foi decretado o fim do sistema de partido único. Em fevereiro de 1991, cerca de 70 partidos já haviam sido registrados. Dada a grave crise econômica do país, em abril, convocou-se "Conferência Nacional", entre outros objetivos, com o de elaborar um projeto de Constituição. A principal questão era a deterioração da situação econômica, com inflação galopante, esgotamento das reservas financeiras, perda de crédito externo, falta de investimentos e destruição da infra-estrutura local.
A partir desse período, a política interna do Zaire foi marcada por uma sucessão de crises. A Conferência Nacional concluiu seus trabalhos em dezembro de 1992, estabelecendo um Parlamento de transição (Haut Conseil de la République) para implementar suas decisões. Em junho de 1994, Mobutu decidiu estender o processo de transição e sua própria permanência no poder por mais dois anos, alegando que os crescentes problemas na região leste do país, fronteira com Ruanda, desaconselhavam a realização de eleições.
Na seqüência dos conflitos étnicos em Ruanda, cerca de dois milhões de refugiados da etnia hutu, inclusive boa parte do exército ruandês, abrigaram-se na província congolesa de Kivu (anteriormente parte de Ruanda e do Burundi, tendo sido transferida para a administração do Congo Belga no final do século XIX), na qual vivem os Banyamulenges, da etnia tutsi. Essa população passou a ser hostilizada, tanto por ex-soldados hutu de Ruanda quanto pelo próprio Governo de Mobutu, que tencionava expulsar os Banyamulenges do Zaire, tendo inclusive adotado legislação cassando a sua nacionalidade.
Ameaçados em seu próprio país, os banyamulenges pediram apoio às tropas da Frente Patriótica de Ruanda (RPF), que já se encontravam na região em perseguição aos milicianos hutu, responsabilizados pelo genocídio dos tutsi em Ruanda. Além disso, os banyamulenges contaram com a simpatia do Presidente de Uganda, Yoweri Museveni, que forneceu armamentos e tropas de combate.
As ações militares começaram em setembro de 1996, quando o Presidente Mobutu se encontrava em tratamento médico na Suíça. Na ausência de um exército zairense que fizesse real oposição, o movimento foi ganhando consistência. Para liderá-lo, o Presidente Museveni sugeriu o nome de Laurent Désiré Kabila, antigo revolucionário, ex-colaborador de Patrice Lumumba e velho opositor de Mobutu.
Os rebeldes, agrupados na Alliance des Forces Démocratiques pour la Libération du Congo-Zaire (AFDL), foram obtendo vitórias sucessivas, conquistando as cidades de Bukavu e Lumbubashi. Com o apoio de tropas do exército angolano, as forças da AFDL entraram triunfalmente em Kinshasa em maio de 1997. O Presidente Mobutu exilou-se no Marrocos, onde morreu de câncer quatro meses mais tarde. Ele ficou no poder de 1965 a 1997, ou seja, 32 anos.

Caiu Mobutu, entra Kabila
O novo Presidente, Laurent Kabila, mudou o nome do país para República Democrática do Congo (RDC). Além de passar a marginalizar as lideranças tutsi e privilegiar elementos oriundos da província de Shaba (ex-Katanga), adotou medidas que provocaram focos de insatisfação, tais como a repressão da oposição, a proscrição de vários partidos políticos e a proibição de manifestações públicas. Mediante decreto presidencial, Kabila arrogou-se os poderes antes atribuídos ao Governo de Transição, bem como o controle sobre o Parlamento, órgãos governamentais e Forças Armadas. Tal situação deveria perdurar até a convocação de uma Assembléia Constituinte.
Em meados de 1998, o relacionamento de Kabila com os aliados Ruanda e Uganda deteriorou-se significativamente. Além da marginalização progressiva de elementos tutsi, Kabila determinou a expulsão de tropas ruandesas do território da RDC. Esses dois fatores, juntamente com a incapacidade do Governo congolês de controlar a situação de segurança nas regiões de fronteira com Ruanda e Uganda e coibir as operações das milícias hutu, provocaram a ruptura entre Kabila e seus ex-aliados.
Seguiram-se diversas rebeliões na RDC, com o respaldo de Ruanda e Uganda. Com apoio ugandense, formou-se outro grupo rebelde contrário a Kabila, o Movimento de Libertação do Congo - MLC, liderado por Jean-Pierre Mbemba Gombo (que viria a ocupar, no futuro, cargo de Vice-Presidente em novo governo de transição). A rebelião assumiu proporções de verdadeira guerra civil, com tropas rebeldes dominando boa parte da região oriental do país e avançando em direção a Kinshasa. Nas proximidades da capital, a ofensiva rebelde foi contida por tropas de Angola, Namíbia e Zimbábue, que intervieram para evitar a queda de Kabila. Por trás do conflito, além do antagonismo étnico, havia interesses políticos e econômicos.
Após quase um ano de guerra civil, a percepção de que o conflito não poderia ser resolvido pela via militar contribuiu para a intensificação de esforços por uma solução negociada por parte de diversos países no âmbito da Organização da Unidade Africana e da SADC - Comunidade do Desenvolvimento da África Setentrional, bem como pela ONU. Acordo de cessar-fogo assinado em 1999 foi objeto de intermitentes violações.
Aspecto crucial do processo de paz foi o estabelecimento de uma missão de paz das Nações Unidas no Congo. Pela resolução 1279, adotada pelo CSNU em 30 novembro de 1999, foi criada a Missão da ONU na República Democrática do Congo (MONUC), integrada por 500 observadores militares e pessoal de apoio humanitário. Desde então, o mandato dessa missão tem sido renovado, com as adaptações exigidas pela situação na RDC. A composição atual é de cerca de 10.800 integrantes, devendo ser aumentada para 16.700, de acordo com a Resolução 1565, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU em outubro de 2004.
Em meio a um quadro político interno que seguia extremamente dividido na ocasião, veio a ocorrer o assassinato do Presidente Laurent Kabila em janeiro de 2001. Dias depois, seu filho Joseph Kabila foi nomeado novo Chefe de Estado.

Dois Kabilas – Poder de Pai para FilhoEntendimentos políticos alcançados a partir de então permitiram gradual e relativa pacificação do país. Em 2002, ao longo do terceiro trimestre, retiraram-se do território da RDC as tropas ugandenses, ruandesas, angolanas, zimbabuanas e namibianas. Em dezembro, acordo global e inclusivo sobre a transição foi acertado em Pretória e veio a ser formalizado em março de 2003. Na nova repartição do poder, o país passou a ser dirigido por um Presidente (Joseph Kabila) e quatro Vice-Presidentes, cada um dos quais em representação das principais forças de oposição, armadas ou não, e responsável por determinado setor da administração. Ficou acertada a criação de novo exército nacional, composta das forças armadas do Governo e dos dois principais grupos de oposição, a coligação RCD-Goma (Aliança – Rassemblement – Congolesa para a Democracia), do Vice Azarias Ruberwa, e o Movimento de Libertação do Congo (MLC), do Vice Jean-Pierre Mbemba Gombo. A concretização dessa medida tem-se revelado difícil, no entanto, inclusive pela insubordinação de alguns grupos armados e pelas tensões que ainda se manifestam, sobretudo na região leste da RDC.
Segundo as informações mais recentes apresentadas pela missão das Nações Unidas (MONUC), a situação conflitiva naquela região, particularmente em Ituri, ocasionou numerosos casos de violações de direitos humanos, milhares de mortos e centenas de milhares de deslocados entre o início de 2002 e o final de 2003. Registrou-se algum avanço em matéria de segurança a partir daí, mas a pacificação da área ainda exige medidas diversas, tais como a plena implementação do desarmamento e a completa restauração da autoridade do Estado, inclusive o controle sobre a exploração dos recursos naturais lá existentes. Em pronunciamento ante a Assembléia-Geral da ONU, em setembro de 2004, o Presidente congolês solicitou o reforço quantitativo e qualitativo da MONUC para conter a ação das milícias que continuam a atuar em partes do território de seu país. Conforme acima indicado, o CSNU decidiu, em outubro, ampliar a composição da referida missão. No final de 2004 e início de 2005, registraram-se sinais de agravamento da situação de segurança no Leste da RDC (como a ameaça de ataque ruandês) que provocaram a retomada de atividades militares em Ituri e nas províncias de Kivu – Norte e Sul.


segunda-feira, janeiro 16, 2006

NAT TURNER – LIDER DA REBELIÃO

Rebeliões de pessoas negras escravizadas aconteceram em praticamente todos os países, inclusive nos Estados Unidos. Das inúmeras que ocorreram em solo ianque, vamos destacar aquela que foi liderada por Nat Turner.
Turner nasceu no dia 2 de outubro de 1800 em Southampton, estado da Virginia, filho de um casal de africanos escravizados, de propriedade de Benjamin Turner, um latifundiário americano. Desde pequeno sua mãe e sua avó, incentivaram nele, sua auto-estima e a não aceitação da condição escrava. Ele também afirmava ter visões.
Sua infância seria comum e desprestigiada se não fosse esperto em conseguir convencer que um dos filhos do fazendeiro o alfabetiza-se. Além disso, movido pelas orações de seu povo, ele desenvolveu a consciência de seu papel importante no processo de libertação de sua comunidade negra. Nat tinha inclusive a convicção, que estava predestinado, divinamente a ser o líder desse movimento.
Aos 31 anos de idade, foi separado de sua família e vendido para Joseph Travis. E naquele ano, em fevereiro, na ocorrência de um eclipse solar, sentiu que era o momento para aproveitar e articular uma rebelião. Era propicio, pois todos os brancos, estavam pensando que o evento astronômico, era um sinal de Deus.
Inicialmente a data escolhida foi 4 de julho – onde é comemorado a Independência Norte América, mas concluíram que não estavam prepararam e adiaram. Remarcaram para o 13 de agosto e realmente executaram 8 dias depois. Primeiro mataram Benjamin e mais 50 pessoas. Logo depois libertaram mais de 75 escravos e começaram a planejar uma forma de manter esta condição.
Entretanto as autoridades da Virginia ficaram alarmadas, e conseguiram reunir uma milícia de 3 mil homens. A idéia era derrotar os ex-escravos, e tornar a punição exemplar. Mal equipados, os liderados de Turner, não resistiram por muito tempo e foram dominados, em 48 horas, após o inicio.
Como retaliação, mais de 100 pessoas negras foram assassinadas, inclusive, algumas nem tinha qualquer participação na rebelião. Nat, a exemplo de Zumbi, consegui escapar e tentava organizar outra revolta, mas foi detido, no dia 30 de outubro. No dia 5 de novembro foi sentenciado a morte, e executado no dia 11 de novembro de 1831, na cidade de Jerusalém, estado de Virginia.
Mas sua morte não foi em vão, pois motivou a discussão do fim da escravidão no estado da Virginia. E ele se tornou um dos heróis afro-americanos da luta pela libertação dos escravos.
Há um livro, escrito é lógico sob a ótica dos senhores de escravos, contando o episodio. O titulo é “The Confessions of Nat Turner”(As Confissões de Nat Turner), escrito por Thomas Ruffin Gray.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

15 DE JANEIRO - ANIVERSÁRIO DE MARTIN LUTHER KING JUNIOR



U2 - Pride (In The Name Of Love)
Orgulho (Em Nome do Amor)

Um homem veio em nome do amor
Um homem veio e foi
Um homem veio ele para justificar
Um homem para subverter
Em nome do amor
O que mais em nome do amor
Em nome do amor
O que mais em nome do amor
Um homem foi pego numa cerca de arame farpado
Um homem ele resiste
Um homem lavado numa praia vazia
Um homem traído com um beijo
Em nome do amor
O que mais em nome do amor
Em nome do amor
O que mais em nome do amor (ninguém como você...)
Manhã cedo,
4 de Abril tiros zumbem nos céus de Memphis
Livre ao final, eles pegaram a sua vida.
Eles não poderiam pegar o seu orgulho
Em nome do amor
O que mais em nome do amor
Em nome do amor
O que mais em nome do amor
Em nome do amor
O que mais em nome do amor...

Se não fosse atingido por uma bala de rifle na sacada do Lorraine Motel, em Memphis, disparada por James Earl Ray, no dia 4 de abril de 1968, no próximo 15 de janeiro, o reverendo Martin Luther King Junior estaria completando 77 anos de idade. Mesmo idoso, seria ainda hoje uma das lideranças mundiais no combate ao racismo e a pobreza. É ainda inimaginável o que ele teria feito neste espaço de 38 anos de seu desaparecimento, onde a eleição de um presidente afro-americano, comprometido com a igualdade étnica, seria uma de suas prioridades atingidas.
Mas quem foi realmente Martin Luther King Junior? Qual sua história? Vou tentar contar a partir das informações que reuni.

Pai e Mãe
Ele era filho de Martin Luther King, um homem negro, filho de trabalhador rural e de uma empregada doméstica. Antes de se tornar um reverendo, era assistente de mecânico e após muito esforço, conseguiu concluir o curso secundário para se tornar um pastor.
King Junior era filho de Alberta Willians, uma filha do promissor reverendo Adam Daniels Willians, pastor da Igreja Batista Ebenezer de Atlanta. Ele era filiado a Associação Nacional para o progresso das Pessoas de Cor – NAACP – National Association for the Advancement of Colored People.
Alberta tinha ainda educação de nível superior e a família fazia parte da pequena classe média afro-americana. Por isso, o pai de King Junior, lutou muito para dar o mesmo nível de vida para a esposa.
Os dois se casaram em 1926, no Dia de Ação de Graças, sem lua de mel, pois nenhum hotel aceitava abrigá-los. King se tornou pastor auxiliar na Igreja Batista Ebenezer, comandada pelo sogro e isso o motivou a tirar um curso de nível superior, para se igualar, a eles.
A primeira a nascer do casal Martin e Alberta, foi Cristine, em 1927. Logo em 1929, nasceu king Junior e depois veio o filho caçula: Alfred. E em 1932, a vida do casal dá uma grande virada, por causa de uma desgraça – Adam Willians morre, e King passa a liderar a igreja.
E nos anos da Depressão Econômica, King, esforçou e conseguiu dobrar o tamanho do templo e dos fiéis, e seguiu o caminho do sogro, se filiando a NAACP. Ele chegou em 1936 a liderar uma passeata contra as proibições para que negros pudesse votar.
Como participante da Liga dos Eleitores negro chegou a receber ameaças de morte de membros da Ku Klux Klan, organização racista, com forte influencia dos estados americanos, localizados ao sul do país.

INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA DE MARTIN LUTHER KING JUNIOR
O futuro líder negro teve uma infância comum, mas com uma vida sem privações econômicas. O pai, sempre lutou para que a família tivesse do bom e do melhor. Exceto nos casos onde envolviam a Segregação Racial.
O primeiro episódio lembrado pelo pequeno King Jr foi quando teve que se separar do amigo dos primeiros anos de vida, que era branco, no momento da matricula escolar. Os dois não podiam freqüentar as mesmas aulas. Sua primeira reação foi desenvolver uma raiva contra as pessoas brancas, que determinaram à separação.
Mas desde os 5 anos, King Junior já demonstrava seu talento para a pregação bíblica, recitando trechos inteiros e entoando hinos religiosos. Na escola era um aluno, que se destaca em História, Inglês e Música.
Na adolescência King Junior encantava as moças com sua voz grave, ao imitar cantores da época, como Nat King Cole e outros, além de ser um galanteador junto às garotas nos bailes.
“O Negro e a Constituição” foi o discurso que levou King Junior a ganhar um concurso de oratória, patrocinado pelo Clube de afro-americanos Elks. Junto com um professor, teve que viajar, para receber a premiação. Mas no caminho de volta, teve que amargar duas horas, em pé, dentro do ônibus, pois teve que ceder lugar para brancos, conforme lei em vigência.
Entretanto, uma estadia de férias na cidade progressista de Connecticut, fez com que o jovem King Junior, sentisse o gosto da igualdade racial. Diferente de Atlanta, negros e brancos, freqüentavam os mesmos lugares. Isso o marcou, muito e o fez jurar, que um dia lutaria para que a realidade em sua comunidade mudasse. Mesmo a força.
Quando foi prestar exames escolares para entrar no Morehouse College, instituição de ensino de alto nível teve outra surpresa desagradável: o futuro líder percebeu que o nível de escolaridade oferecido aos negros era além de segregado, pior em qualidade.
Na adolescência, ele ainda teve sérios conflitos com o pai, que desejava que seguisse a tradição da família e fosse também um pastor. Mas King Junior se irritava com a passividade dos pastores negros, que mesmo diante das atrocidades sofrida pelos seus fiéis, pregavam a resignação e apenas debatiam em seus sermões, temas estritamente bíblico.
Numa segunda tentativa, conseguiu entrar no Morehouse, onde seu objetivo era estudar muito para se preparar para um concurso de admissão no Curso de Direito. Sua opção pelo ministério começou a renascer após, a influencia do diretor da instituição – Dr. Benjamin Mays – um afro-americano sulista, formado na progressista Universidade de Chicago. Ele pregava a responsabilidade social dos pastores, pois já tinha sido um.
Finalmente, em 1946, comunica sua decisão ao pai – seria pastor. O reverendo Martin ficou emocionado com a vocação do filho, pois ele já pediu para pregar na Igreja Batista. No ano seguinte, foi ordenado, aos 18 anos, e na seqüência, foi para Chester, estado da Pensilvânia, onde passou a estudar o Seminário Crozer onde obteve a formação em Teologia. Depois, terminou seus estudos na Universidade de Boston, na mesma matéria, agora em nível superior.

KING JUNIOR CONHECE A ESPOSA
Na Universidade de Boston, o ambiente ela diferente de sua comunidade. Prevalecia um clima igualdade racial. Tinha amigos intelectuais, artistas, todos inspirados no combate ao racismo e em criar uma sociedade mais justa.
E no Conservatório Musical da Nova Inglaterra, conheceu a jovem Coretta Scott, oriunda do interior do Alabama. Ela no começo, não se encantou com ele, pois queria fazer carreira artística. Só que escapar dos galanteios de King Junior, não era tarefa fácil, e no fim acabou se apaixonado.
No dia 18 de junho de 1953, casou-se em Marion, Alabama, na casa da família de Coretta. Antes mesmo de terminarem os estudos.

O JOVEM PASTOR
Em 1954, Martin Luther King Junior passou a coordenar a sua primeira igreja batista. Era em Montgomery, estado do Alabama. A cidade era extremamente racista e o ambiente serviu para fortalecer sua determinação em lutar contra a discriminação racial.
A comunidade que freqüentava o templo era formada por afro-americanos de classe media que estava mais interessado em pastores eruditos, sem discussão social. Mas aos poucos foi mudando o ritmo de seus sermões, até motivá-los a participar mais dos problemas da comunidade.
Duas atitudes foram importantes para mudar seus fiéis: primeiro criou comitês de ajuda a mendigos e doentes, depois promoveu campanha de filiações a NAACP. Também obteve nesta época um aliado, que o acompanharia pelo resto da vida – o pastor Ralph Abernathy, da Primeira Igreja Batista de Montgomery .
Em 1955 conseguiu concluir sua tese de doutorado com tema “Uma comparação do Conceito de Deus no Pensamento de Paul Tillich e Henry Nelson Wieman”, defendida na Universidade de Boston. Agora oficialmente, tornara-se o Doutor Martin Luther King Junior.
O INICIO DA MILITÂNCIA NEGRA
O ano de 1955, também teve um fato que marcou não só King Junior, como também todo o Movimento Negro no mundo. Era dia 1 de maio, e a costureira, Rosa Parks, cansada fisicamente e psicologicamente de levantar-se toda vez que um branco precisava de um banco no ônibus. Ela se recusou a dar o assento a um cidadão branco e pela desobediência a legislação vigente de segregação racial, foi fichada e presa pela policia.
O fato passaria esquecido, pois já tinha sido cometido antes, mas Rosa tinha secretaria do NAACP de Montgomery. Por esta razão o advogado E.D. Nixon foi até a delegacia pagar sua fiança e iniciou uma luta inédita no Poder Judiciário Norte-Americano, contra as leis racistas.
Mas Nixon precisava de mobilização social dos negros para conseguir vitória. Para tanto chamou as lideranças negras locais, e entre eles os pastores. King Junior, um dos participantes, logo tomou a iniciativa de coordenar as manifestações, conseguindo adesão de Abernathy para uma idéia simples, mas eficiente: 5 de dezembro – um domingo iriam boicotar os ônibus que mantinham o tratamento segregacionista.
Tudo daria errado se não tivesse a colaboração oportuna das frotas de táxis de negros, que fizeram lotações para transportar a população, no mesmo preço que os ônibus. Outro aliado foi a MIA – Montgomery Improvement Association, ou seja, Associação para o progresso de Montgomery.
Mas os racistas também reagirem e se aliaram. A Ku Klus Klan foi com 40 veículos até a periferia de Montgomery para ameaçar a população. A Policia passou a perseguir os taxistas negros, querendo os obrigar a parar com as lotações. E o Poder Judiciário local condenou a MIA em 15 mil dólares por coordenar o boicote. Também King Junior, sofreu, pois uma bomba foi acionada na frente de sua casa. Por sorte não havia ninguém.
No dia 21 de dezembro de 1956, circulou na cidade o primeiro ônibus sem segregação racial. Levou um ano entre atentados aos pastores e os passageiros, para que a medida se perpetuasse, e aconteceu. A Suprema Corte tinha já tinha decidido em 1954, também a integração do ensino.
Foi a primeira grande vitória de King Junior.

UMA LUTA NACIONAL
A luta em Montgomery tornou o Dr. Martin Luther King Junior uma personalidade nacional, em 1957, torna-se capa da revista Times. Por causa da importância da experiência, ele resolveu escrever um livro sobre o fim da segregação racial naquela cidade. Que lógico virou um best seller – A Caminho da Liberdade: a Historia de Montgomery.
Porém sua atenção não foi desviada. Martin tentou uma audiência com o presidente Dwight D. Eisenhower para tentar convencê-lo a aprovar uma proposta de Lei de Direitos Civis, não autorizativo e sim obrigatório. O que não aconteceu, pois os políticos não tinha sido suficientes cobrados pela população negra.

Para melhor lutar pela Integração Racial, King Junior e outras lideranças negras resolveram criar SCLC - para em 1958, unir cristão de todas as etnias contra o racismo. A campanha foi lançada no dia 12 de fevereiro daquele mesmo ano – data do aniversário de Abraham Lincoln – presidente que assinou a Abolição da Escravatura nos Estados Unidos.
Em 1959, iniciou outra grande batalha, liderando no SCLC, cadastrar eleitores negros para participarem das eleições. O que é difícil, pois toda sociedade sulista, desde os policiais, políticos, até os funcionários da Justiça Eleitoral, estão empenhados em dificultar a situação.
Os anos 60 iniciam com a mudança da família do reverendo para Atlanta e a estréia de uma tática de enfrentamento da legislação segregacionista em vários estados – o sit-in– onde se uniam estudantes negros e brancos para freqüentarem restaurantes e lanchonetes não integradas racialmente. O primeiro lugar foi em Grensboro, no estado da Carolina do Norte, no dia 1 de fevereiro de 1960.
O sit-in foi copiado em Nashville, no Tennesee e em outras localidades nos estados do sul. O ápice foi na Universidade de Shaw, em Raleigh, na Carolina do Norte, onde 200 estudantes desafiaram os racistas.
King Junior articulou o apoio a esses jovens junto com outros pastores negros e brancos através da SNCC Student Nonviolent Coordinating Committee (Comitê Conjunto de Não Violência dos Estudantes).
Mas neste meio tempo o reverendo teve que lidar com um contratempo. Lideranças da Ku Klus Klan conseguiram convencer a justiça a aceitar pseudo-acusações. Para arrecadar dinheiro para pagar seus advogados, King Jr. Contou com ajuda do ator afro-americano Harry Belafonte. E no dia do julgamento, mesmo com um júri, predominantemente branco, foi declarado inocente.

NIXON OU KENNEDY
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Diferente das lideranças negras brasileiras que se atropelam em apoiar candidatos nas eleições presidenciais, Dr. Martin Luther King Junior, não se iludiu. Nas eleições presidências de 1960, ele não apoiou nem o democrata John Kennedy, nem o republicano Richard Nixon, apesar de que os dois declararem propostas de políticas publicas de integração racial.
Mas o então Senador Kennedy conseguiu atrair a simpatia de King Junior em outubro, quando interferiu para que ele não fosse preso e enviado para a Penitenciaria de Reidville, controlada pela Ku Klus Klan. A atitude eleitoral ou não, ajudou ao candidato obter 75% dos votos negros e assim conseguir ser eleito presidente.
Empossado, Kennedy recebeu o reverendo em seu gabinete, mas não demonstrou coragem em finalmente aplicar ações afirmativas para população negra. King percebeu que a luta estava continuava, apesar do país ter um político progressista do comando. Mesmo assim, tinha pré pressionar através de manifestações públicas.
Uma das atitudes foi à criação dos Viajantes da Liberdade, criados pelo CORE - Congress Of Racial Equality – Congresso da Igualdade Racial, liderados pelo pastor James Farmer. A tática era quase idêntica que os sit-in, cruzar o país, freqüentando locais onde negros e brancos não poderiam estar ao mesmo tempo.
No Dia 14 de maio de 1961, em Anniston, estado do Alabama a Ku Klux Klan incendiou um ônibus usado pela CORE, e na cidade de Birmingham, os jovens foram duramente espancados. Apesar do apoio dado pelo Secretário de Justiça, Robert Kennedy, até setores do FBI – Policia Federal americana, contribuía com os racistas.
Mas Luther King Junior não só deu estimulo aos estudantes, quanto passou a arrecadar fundos para soltar aqueles que foram presos. O resultado dessa luta foi à promulgação de uma legislação, através da Comissão Interestadual de Comércio para acabar com a segregação nas estações rodoviárias.

Albany e Birmingham
O outro front da luta contra o racismo foi Albany, uma pequena cidade do estado da Geórgia. Não foi por acaso – lá tinha funcionado nos tempos da escravatura, como ponto regional de comercio de pessoas escravizadas.
Logo que chegou à cidade, o reverendo King organizou uma assembléia e uma passeata. Imediatamente foi preso, a pedido das autoridades locais, que por outro lado tentaram agradar a comunidade negra com o fim de locais segregados entre negros e brancos. Ao sair da cadeia, Martin percebeu que a medida seria inócua, pois comerciantes e servidores públicos, simplesmente se recusavam a atenderem negros, chegando a fechar os estabelecimentos governamentais e particulares.
King voltou a realizar protestos de massa e foi novamente detido. Entretanto até dentro da cadeia, ele era temido. Por isso uma inusitada aliança entre as autoridades racistas e negros conversadores que ganhavam com o sistema pagaram a fiança, do líder afro-americano. O objetivo era claro: despachá-lo de Albany, para que as coisas continuassem como estavam.
Os políticos racistas conseguiram até interferir junto ao Governo Federal, para conseguir uma proibição de qualquer manifestação pública. Era ditatorial, mas o reverendo acatou a ordem, até que ela caiu. Mas quando organizava, foi surpreendido junto com a liderança do movimento, com a noticia do bárbaro espancamento de uma moça grávida, por policiais. Para deter a irá de aproximadamente 200 pessoas contra o crime, King, declarou a data – Dia da Penitencia, articulando religiosamente e politicamente a não violência.
Outra cidade escolhida por King e seus companheiros para denunciar o sistema racista, foi Birmingham, estado do Alabama. Outra fez a motivação são históricas: a cidade era afamada como a mais preconceituosa e segregacionista do país.
Além disso, a cidade era uma das bases de operação da Ku Klux Klan, e era comandada pelo comissário Eugene Connor, apelido de touro, devido a sua truculência. Touro afirmava que os problemas dos Estados se resumiram em comunismo, socialismo e jornalismo, que estariam combinados na destruição da supremacia branca.
Por outro lado, a cidade, tinha também sua liderança negra religiosa – era o pastor Fred Shuttlesworth. Ele coordenava a regional da SCLC, através da entidade: Alabama Christian Movement of Human Rigths – Movimento Cristão do Alabama pelos Direitos Humanos. Era um grande militante negro que desde 1956 tentava diminuir a discriminação racial no município, mas tinha já pago caro pela ousadia. Membros da Ku Klux Klan articularam processos que tinha tomado dos os bens do pastor. E mesmo assim, ele continuava a lutar.
A Campanha de Birmingham foi muito mais planejada que Albany. King Junior, Albernathy e Shuttlesworth encabeçaram o movimento de desmoralização da segregação racial naquela cidade. Conseguiu articular e unificar o Movimento Negro em uma única pauta.
No dia 3 de abril de 1963, eles divulgaram seu manifesto: lanchonetes, banheiros e bebedouros integrados, geração de emprego para afro-americanos e a formulação de políticas publicas em favor da comunidade negra. E a tática consistia em também realizar boicotes a locais segregados.
A atitude atraiu atenção da Mídia Americana para a cidade e aumentou a adesão ao movimento. Não demorou até que as autoridades policiais cedessem às pressões dos racistas: proibiam os líderes do movimento de realizar manifestações, e mais 300 pessoas, no dia 11 de abril. Mas isso não os deteve.
O confronto teve momentos ricos, como da passeata liderada por King, Albernathy, Shuttlesworth e mais 50 militantes, que na sexta-feira santa, ajoelharam defronte a tropa de Eugene Connor, e começaram a rezar. Todos foram presos. No dia seguinte 1.500 imitaram o ato, constrangendo Touro frente à mídia.
Em Birmingham, também foram manipulados religiosos brancos, para pressionar King a continuar sua luta no sistema judiciário, abandonado as manifestações populares. Também queriam que tudo continuasse como estava – segregação racial. O reverendo, não só reagiu quanto divulgou um manifesto da imprensa, divulgando os métodos pacifistas dos negros e denunciando a violência policial.
Em 1 de maio de 1960, dia mundial do trabalho, 1.000 crianças iniciaram sua participação no movimento. Todas foram presas, pela tropa de Touro. No dia 2 de maio, 2.500 jovens repetiram a atitude. E Eugene Connor cometeu seu maior erro político: usou jatos de água, cães policiais, cassetetes e espancamento para detê-los. Tudo foi registrado pela Imprensa e divulgado em rede nacional.
Três dias depois, o reverendo Charles Billups liderou uma passeata com 3.500 jovens. Cantando hinos religiosos, pararam diante das tropas de Touro e rezaram, depois avançaram sem resistência. Os comandados de Connor se recusaram a espancá-los, pois tinham ficado abalados com a repercussão da repressão anterior, mostrada na televisão.
Aconteceram ainda atentados e o bárbaro assassinato de quatro meninas negras, em uma Igreja Batista. Mas no fim, a legislação e os costumes de Birmingham foram mudados. A um alto custo, mas o Movimento Negro tinha avançado.
O FBI contra Martin Luther King Jr
A partir do ano de 1963, o grupo de lideranças encabeçadas por Martin Luther King Junior percebeu claramente que estavam na mira de FBI. O chefe d da policia federal americana era o conservador, Hoover, anticomunista e identificava o Movimento Negro como instrumentalizado por Moscou. Ele gastava muito dinheiro do contribuinte vigiando pessoas como Malcolm X, Mohamed Ali e artistas negros.
Mesmo assim, King teve espaço para realizar mais de 350 conferencias e viajar todo o país, mobilizando contra o racismo. Muito dos seus gastos eram bancados pelos dividendos de seus livros ou era custeada a sua passagem pelas entidades ou universidades que o convidavam. Além disso, criou determinou que a SCLC dedicasse a capacitar militantes, que fossem às cidades, treinar a comunidade negra a passar pelo teste de aptidão que daria direito a votar.
O reverendo também notou que não bastava, combate o racismo, sem geração de renda. Isso ficou bem claro em suas passagens por St. Augustine, na Florida e no Harlem em Nova Iorque, onde afro-americanos se revoltavam contra suas condições socioeconômicas.

Martin Luther King


MARCHA DE WASHIGTON

A Marcha de Washington realizado em 1963 – foi um ato político idealizado pelo sindicalista Philip Randolph – fundador da primeira entidade de classe de trabalhadores negros. Mas a conduta de Luther King como líder moral do país naquele momento, conseguiu arregimentar aos integrantes da Marcha. Além de participantes do Movimento pelos Direitos Civis do Povo Negro, artistas, atletas, até fazendeiros e brancos estiveram juntos – dando um caráter inter-racial à reivindicação.
Os coordenadores da passeata estimavam que conseguissem no máximo colocar 100 mil pessoas nas ruas. Igrejas e organizações não governamentais estavam auxiliando nesse transporte. A TV tinha uma visão mais tímida, falava de apenas 25 mil manifestantes.
O começo do evento estava marcado para as 13 horas e 30 minutos. O trajeto seria sair com a passeata atrás da Casa Branca, cruzar as principais vias de Washington, terminando defronte ao Lincoln Memorial. Mas uma bela surpresa animou os organizadores – antes da passeata já tinham conseguido reunir 250 mil pessoas.
O público foi ao delírio quando Martin Luther King Junior, o publico foi ao delírio. Antes de falar, uma estrondosa salva de palmas recebeu Luther King. Ele iniciou sua fala explicando a realização da Marcha e o porquê do palanque estar daquele local – o Monumento em homenagem ao ex-presidente Abraham Lincoln. Ele foi o presidente que assinou a promulgação da Abolição da Escravidão e por isso teve que enfrentar uma Guerra Civil.
Luther King lembrou, porém que o negro ainda não era um cidadão livre. Falou da luta pela garantia dentro da Constituição dos direitos a vida, liberdade e a busca da felicidade. Respondendo as alas radicais do movimento negro representado por Malcolm X, ele disse que o povo negro não deveria matar a sede de liberdade na taça do ódio e da revolta, apesar de argumentar que não deveria ficar satisfeito com meias-verdades dada pelas elites do país.
Emocionado o reverendo batista largou o discurso e começou a improvisar num trecho muito conhecido hoje “... eu tenho um sonho, que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-senhores de escravos possam se sentar juntos à mesa da fraternidade”.
Luther King terminou seu discurso pedindo que todos desses as mãos e cantassem um velho canto religioso dos tempos da escravidão “livres finalmente! Livres finalmente! Graças a Deus Todo-Poderoso, estamos livres finalmente!”.
No período da tarde, o então presidente John Kennedy recebeu uma comissão de lideranças da Marcha em seu gabinete de governo, declarando apoio à pauta de reivindicação.

PREMIO NOBEL E LEI DOS DIREITOS CIVIS
O ano de 1964 foi o coroamento do trabalho do reverendo King Jr. Ganhou o Premio Nobel da Paz por seu trabalho de combate ao racismo, utilizando técnicas de não-violencia, e a Lei de Direitos Civis, garantindo a integração de escolas e locais públicos, foi assinada.
Era uma etapa da luta que foi cumprida. A outra parte era a transformação da legislação em mudança da realidade dos negros. E Martin resolveu testar o cumprimento da lei em Selma, cidade pequena, há 100 metros de Montgomery. Lá os personagens eram duros novamente: o Conselho de Cidadãos Brancos e o xerife local Clark. Para piorar, o governador do estado, era o segregacionista George Wallace. Ele tinha se eleito prometendo manter negros e brancos afastados.
Em Selma, King foi também participar da campanha de cadastramento de eleitores negros, onde já começou iniciando uma manifestação pública contra os métodos rígidos demais para afro-americanos. A exigência era até relaxada com cidadãos brancos, inclusive alguns mal sabiam ler ou escrever, mas tinha direito do voto. Mas negros instruídos era de forma racista excluídos.
As passeatas deram certo e logo o Governo Federal interferiu para permitir o cadastramento de negros no serviço eleitoral. Podem os racistas reagiram, apelando para o governador Wallace, que enviou tropas estaduais. King respondeu com mais passeatas. No meio do embate, ele e mais 5 mil pessoas estavam presos. O número praticamente corresponde ao número de eleitores negros.
Após uma visita ao presidente Lyndon Johnson, o reverendo conseguiu o apoio do Governo Federal e da opinião pública, após as autoridades policiais, serem denunciadas por torturar estudantes com choques elétricos. King descobriu muitos trabalhadores negros, não recebiam salários, vivendo um sistema próximo da escravidão em Selma.
Isso motivou Martin Luther King Junior a pressionar não só pela integração racial, e também pela geração de renda para a população negra. Lançou a Operação Cesta de Pão, destinada a pressionar empresários brancos a contratarem desempregados negros. A tática era de boicotar aquelas empresas que se recusavam.
Mas o presidente Lydon Johnson estava atolado na Guerra do Vietnam, e cada vez mais consumia milhões de dólares em armamento, enquanto a população necessitava de projetos sociais. Diante desta situação o pastor passou a criticar a participação dos Estados Unidos no conflito asiático. Temendo perder votos com a situação Johnson, criticou King por se interferir no assunto. Até internamento no Movimento Negro, uma ala moderada, achava que o reverendo tinha sido muito radical.
Ele passou a organizar uma grande Marcha dos Pobres para Washington para acontecer em 1968. Era uma bandeira também negra, pois a maioria dos miseráveis eram afro-americanos. Por causa disso, vai, em abril, a Memphis para dar apoio a uma greve de garis e lixeiros.

SEU ASSASSINATO
Na manhã de 4 de abril de 1968. Na sacada do Lorraine Motel, foi atingido pelos tiros disparados, pelo criminoso James Earl Ray. Imediatamente a morte dele, negros nas cidades de Chicago, Detroit, Nova Iorque, Boston, Memphis e Washington foram às ruas em manifestações, passeatas e até depredações. Eles reagiram assim, pois tinha já perdido Malcolm X, outro grande líder. Com a morte de King, se sentiram desamparados.
No dia 9 de abril, foi enterrado, onde o discurso mais emocionante foi de seu amigo e pastor Ralph Abernathy. 60 mil pessoas compareceram ao sepultamento, no cemitério de South View.
No dia 19 de junho de 1968, aconteceu a Marcha dos Pobres, que se transformou no Dia da Solidariedade, com a presença de 50 mil pessoas. Mas sem sua presença, o Movimento Negro, perdeu uma maior referencia moral.
Nos Estados Unidos, todos 15 de janeiro, é feriado nacional – em homenagem ao grande líder negro.


MAHATMA GANDHI E NÃO VIOLÊNCIA
Ninguém influenciou tanto Martin do que o advogado indiano e líder do processo de libertação da Índia, Mohandas Gandhi. Suas táticas de enfrentamento do poder colonial inglês, com base em métodos de não violência foram às bases das atitudes de King.
Gandhi chamava sua doutrina de Satyagraha, e assim conseguiu liderar greves, piquetes e passeatas, que derrubaram em solo indiano, uma das maiores potencias mundiais, na primeira metade do século XX.
Em 1959, ele, sua esposa Coretta e o historiador negro L. D. Reddick visitaram Bombaim e Nova Delhi, onde foram recebidos pelo primeiro-ministro, Jawaharlal Nerhu, um dos pupilos políticos de Gandhi.


Tributo A Martin Luther King
Cantada por Wilson Simonal
Sim sou negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim, luta mais.
Que a luta está no fim

Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar com sangue ou não
Com uma canção também se luta irmão
Ouvir minha voz
Lutar por nós

Luta negra demais, luta negra demais.
É lutar pela paz, é lutar pela paz.
Luta negra demais
Para sermos iguais
Para sermos iguais

terça-feira, janeiro 10, 2006

Dom Silvério Gomes Pimenta


Dom Silvério Gomes Pimenta, professor, orador sacro, poeta, biógrafo, prelado e arcebispo de Mariana, nasceu em Congonhas do Campo, MG, em 12 de janeiro de 1840, e faleceu em Mariana, MG, em 30 de agosto de 1922. Eleito em 30 de outubro de 1919 para a Cadeira n. 19, na sucessão de Alcindo Guanabara, foi recebido em 28 de maio de 1920, pelo acadêmico Carlos de Laet. Foi o primeiro prelado brasileiro com assento entre os escritores consagrados pela Academia Brasileira de Letras.
Foram seus pais Antônio Alves Pimenta e Porcina Gomes de Araújo. Órfão de pai aos quatro anos, cedo teve de empregar-se como caixeiro para sustentar a mãe e quatro irmãos menores. Demonstrando desde cedo pendor para o estudo, seu padrinho Manuel Alves Pimenta obteve para ele uma vaga no Colégio de Congonhas, dos padres Lazaristas. Esse estabelecimento, onde obteve as melhores colocações, foi fechado em 1855. Em vista de não poder continuar os estudos, empregou-se como sapateiro. Afilhado de crisma de D. Viçoso, bispo de Mariana, este concedeu-lhe matrícula no Seminário da cidade. Ali entrou aos 14 anos. Dois anos depois já era professor de latim, cadeira que ocupou durante 28 anos. Além de latim, foi professor de Filosofia e História Universal, durante 12 anos.
Foi ordenado, por D. Viçoso, aos 22 anos, em 1862, na matriz de Sabará. Em 1864 foi à Europa, enviado por D. Viçoso. Em 1874, ao falecer esse ilustre bispo, o padre Silvério foi eleito vigário capitular, governando a diocese até 1877. No ano seguinte, D. Antônio Correa de Sá e Benevides, sucessor de D. Viçoso, escolheu-o para vigário geral e provisor do bispado. Como D. Benevides estivesse sempre doente, D. Silvério foi durante muito tempo o sustentáculo do bispado, até que em 26 de junho de 1890 foi nomeado bispo titular de Cámaco e auxiliar de Mariana. Foi sagrado em São Paulo por D. Pedro Maria de Lacerda, em 31 de agosto de 1890. Foi o primeiro bispo sagrado depois de proclamada a República.
Desde então, começou a escrever suas célebres cartas pastorais. A primeira pastoral traz a data de 24 de novembro de 1890 e a última é de 10 de fevereiro de 1922.
Com a morte de D. Benevides, em 1896, sucedeu-o no bispado de Mariana. Em 16 de maio de 1897, já transferido de bispo titular de Cámaco para efetivo de Mariana, fez sua entrada solene na catedral dessa cidade. Nesse ato tomaram parte o governador do Estado, dr. Bias Fortes, e outros representantes do governo estadual.
Em 1906, o papa Pio X elevou a diocese de Mariana a arquidiocese e o respectivo bispo, D. Silvério, a arcebispo. O cardeal Arcoverde oficiou a cerimônia de imposição do pálio ao novo arcebispo, tendo feito a oração gratulatória o bispo de Petrópolis, D. João Francisco Braga.
Várias viagens fez D. Silvério a Roma. Em 1899, em companhia de outros prelados da América, tomou parte no Concílio Plenário.
A personalidade literária de D. Silvério ficou marcada por seus livros e cartas pastorais, gozando o arcebispo acadêmico da fama de poliglota, conhecedor que era do latim, grego, hebraico, além das línguas vivas que usava correntemente. Publicou poesias em latim. Sua obra maior é a Vida de D. Viçoso. Como jornalista, D. Silvério fundou e dirigiu, em Mariana, o Bom Ladrão, O Viçoso, O D. Viçoso e o D. Silvério, editados sob sua orientação e dirigidos pelos padres Severiano de Resende e Luís Espechit.
Os versos latinos, as cartas pastorais e os artigos na imprensa granjearam-lhe fama, sendo comparado ao padre Manuel Bernardes e a frei Luís de Sousa. E foi esse renome que o levou à Academia Brasileira de Letras. Outros sacerdotes que depois dele tiveram ingresso na Academia foram o arcebispo D. Francisco de Aquino Correa, o monge beneditino D. Marcos Barbosa e o arcebispo D. Lucas Moreira Neves.
Obras: O papa e a revolução, sermões (1873); Peregrinação a Jerusalém (1897); D. Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana, conde da Conceição (1876); A prática da confissão, estudos de moral e dogma (1873); Cartas pastorais 1890-1922; diversos sermões, orações, conferências, poesias latinas em periódicos.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

AMÍLCAR CABRAL – UMA LIDERANÇA AFRICANA QUE O MUNDO PERDEU




No próximo dia 20 de janeiro, O Movimento Negro tem que fazer homenagem a um dos maiores líderes da África do Século XX – Amílcar Cabral. Junto com Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e outras lideranças lutaram pela independência de seus países e planejavam um futuro melhor, que não aconteceu, por sua morte prematura e ausência de herdeiros ideológicos.

A INFLUÊNCIA DE SEU PAI
A História de Amílcar Cabral começa bem antes de seu nascimento, com seu pai, Juvenal Lopes Cabral, que nasceu em Cabo Verde em 1889, neto de um grande proprietário rural. Seu outro avô que lhe deu o nome de Juvenal, em homenagem a um poeta latino.
Entretanto sua vida não é fácil, não conhece o pai, morto tragicamente quando tinha apenas dois meses de idade. É criado pelos avós e, mais tarde, pela madrinha, Simoa Borges, que lhe irá custear os estudos. Primeiro, em Portugal, no Seminário de Viseu.
Volta ao Cabo Verde em 1906, para freqüentar o seminário de S. Nicolau. Com dezoito anos, Juvenal abandona os estudos e embarca para a Guiné à procura de emprego. Torna-se funcionário em Bolama, depois professor sem diploma.
Já casado, com Iva Pinhel Évora, vive em Bafatá quando, a 12 de Setembro de 1924, nasce Amílcar Cabral. Na certidão de nascimento o nome tem a grafia Hamílcar, homenagem ao célebre cartaginês Hamílcar Barca.
Em 1932, morre a madrinha Simoa que deixa para Juvenal algumas propriedades rurais em Cabo Verde. A família regressa às ilhas, mas devido a Segunda Guerra Mundial, enfrenta dificuldades. O governante português Salazar sobe os custos de vida, as mercadorias rareiam. Em 1940, uma calamitosa seca provoca a fome. Morrem mais de 20 mil cabo-verdianos. E, entre 1942 e 1948, nova crise vai fazer 30 mil vítimas.
Mesmo assim Juvenal não se calou. Em 1940, dirige ao governador um memorando em que, baseado em dados históricos, prevendo uma grande seca para os anos seguintes. Surgirá, depois, o documento enviado ao ministro das Colônias.
No ano seguinte, ele repete a estratégia enviando um memorando a Vieira Machado, ministro das Colônias de Salazar. Preocupado com a seca e a fome no seu arquipélago, Juvenal propõe ao ministro algumas políticas a seguir para minorar os males: pesquisa e captação de águas, arborização intensiva, proteção à agricultura, supressão do imposto sobre as terras, criação de um crédito agrícola, proteção ao pequeno funcionário.
Memórias e Reflexões, editado pelo autor, em 1947, é um livro do pai de Amílcar em que rememora a sua vida, debate os problemas da época e dos meios em que viveu, anota fatos e episódios que registram a História.

JUVENTUDE DE AMÍLCAR
“Ele nasceu com a política na cabeça. Era filho de político. Juvenal falava-lhe de todas as coisas”. São, de Dona Iva Pinhel Évora, mãe de Amílcar, mulher de Juvenal Lopes Cabral.
Dona Iva Évora, é, para o jovem, o exemplo da ternura, da proteção e do trabalho. Presa todo o dia à máquina de costura, Iva vai contribuindo para que a família vença, da melhor maneira, as crises por que passam. E, mais tarde, sem largar a costura, empregar-se-á numa fábrica de conserva de peixe.
Amílcar estudou no Liceu no Mindelo. Lá manifesta seu gosto por poesia, as assinando como Larbac, Cabral ao escrito ao contrário. Com 17 anos escreve: Quando Cupido acerta no alvo, Devaneios, Arte de Minerva, entre outros. Os temas denotam influências clássicas. Os poetas que conhece do liceu são os inspiradores: Gonçalves Crespo, Guerra Junqueiro, Casimiro de Abreu, por exemplo.
Aos 20 anos de idade, Amílcar começa a trabalhar na Imprensa Nacional, por um período de 1 ano. Seu desempenho dá credito a obter uma bolsa de estudo para cursa no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, também, por influência do pai.
Portugal em 1945 está em clima de grande esperança para os portugueses de pleno estabelecimento da Democracia. Mas um acordo feito entre Salazar com os Estados Unidos mantém, inalterável e apoiado, ao seu Regime Ditatorial.
Também é no curso universitário que Amílcar conhece a primeira mulher de Amílcar, Maria Helena de Athayde Vilhena Rodrigues com quem viria a ter duas filhas, Iva Maria e Ana Luísa. Amigos de estudo recordam Amílcar como uma pessoa carismática, grande senso de humor, e com enorme capacidade de criar amizades. Sedutor atrai afetos femininos com facilidade.
"Era o mais bem vestido e aprumado de todos nós", lembra seu colega no período do curso universitário, o jornalista Carlos Veiga Pereira. Seu irmão, Luís Cabral, primeiro presidente de Guiné-Bissau afirma que o Amílcar conseguia facilmente fazer amizade.
Sua outra paixão era o futebol. Se quisesse, poderia ter virado um craque nos campos. Um olheiro do grande clube português de futebol profissional, Benfica chega a convidá-lo para ingressar no clube. Mas Amílcar recusa a proposta e prefere continuar jogando nas "peladas” universitárias.

A FORMAÇÃO POLÍTICA
Durante os anos de estudo Amílcar acaba adquirindo também formação política e junto com outros estudantes negros começa a refletir: era necessário o Regresso à África. Não só pelos laços familiares família, mas porque seu povo tem necessidade da minha contribuição na luta os problemas sócio-ambientais que travam. Ele lembra que apesar do desenvolvimento econômico das cidades litorâneas, a população, no interior destes países, convivem com a extrema pobreza.
Em 1949, Ele escreve: “Vivo intensamente a vida e dela extraí experiências que me deram uma direção, uma via que devo seguir, sejam quais forem as perdas pessoais que isso me ocasione. Eis a razão de ser da minha vida”.
Muitos livros também o ajudam a compreender sua realidade. Entre esses livros um será determinante: a Anthologie de la nouvelle poésie négre et malgache, organizada por Léopold Sédar Senghor. O autor conclama “o negro está a despertar em todo o mundo”. Com base nisso Amílcar teoriza sobre o cabo-verdiano — o homem resultante da fusão dos primeiros habitantes do arquipélago, brancos e negros. Já então reconhece que o número de mestiços é seis vezes superior ao dos brancos e três vezes ao dos negros — do ponto de vista psíquico há um "espírito cabo-verdiano", existe a cabo-verdianidade.
No quinto ano do curso, Amílcar volta ao arquipélago para passar as férias grandes. Poe em prática sua especialidade técnica - a erosão dos solos - e a sua formação política. Tenta transmitir e ensinar aos cabo-verdianos. E assim consegue, em Praia, falando na Rádio Clube de Cabo Verde. Além disso, profere várias palestras sobre as características do solo das ilhas.
Apesar das dificuldades, o futuro líder reconhece que a agricultura é à base da economia de Cabo Verde. Para tal, é necessário elucidar, esclarecer, conscientizar o homem do campo. Amílcar coloca o problema da elite na sociedade. É preciso criar uma vanguarda intelectual que leve ao cidadão comum toda a informação sobre os seus problemas sociais. Eis a sua tarefa de militante: conscientizar os cabo-verdianos.
Mas as autoridades portuguesas rapidamente lhe proíbem o acesso à rádio e também lhe proíbem que ministre um curso noturno na Escola Central da Praia e até palestras.
De novo a Universidade em Lisboa, Amílcar articula-se com outros estudantes originários das colônias portuguesas. Forma-se um grupo de jovens, provenientes da pequena burguesia urbana africana, todos conscientes da revolta contra o colonialismo e com instrução e cultura. Militam nas organizações da juventude democrática portuguesa, o MUD Juvenil, o Movimento para a Paz. Com uma bandeira que os diversifica dos europeus: a reafricanização dos espíritos, diz Amílcar Cabral. Esta reprocura da identidade leva à criação, em casa da família Espírito Santo (de que é figura proeminente a santomense Alda Espírito Santo), de um Centro de Estudos Africanos. Ali se discutem, apesar das incursões da PIDE, algumas das questões mais prementes da África sob o domínio português. Amílcar tem nesses debates uma participação decisiva.
Em 1950, Cabral forma-se agrônomo e faz estágio na Estação Agronômica de Santarém. Pouco depois, falece Juvenal Cabral consegue emprego de dois anos na Estação Agronômica de Santarém. No final deste período, em 1952, aos 28 anos desembarca em Guiné-Bissau, sendo contratado pelos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné.
Amílcar tem em mira outros fins que não só os da sua profissão. O principal deles é conscientizar as massas populares guineenses
O Engenheiro, como lhe chamarão os compatriotas, está na melhor das posições para levar a cabo a tarefa de conscientização. Nos postos agrícolas de Pessubé, que dirige, contata com os trabalhadores rurais entre os quais cabo-verdianos. É difícil a unidade entre estes e os guineenses para a constituição de uma luta comum.
Será difícil até ao fim, apesar de alguns cabo-verdianos, com exceção de Abílio Duarte, Aristides Pereira e Fernando Fortes, entre outros se unirem à sua volta. O trabalho político segue em conjunto com a atividade profissional.
A princípio, Amílcar Cabral procura agir na legalidade. Redige os estatutos de um clube desportivo e cultural ao qual podem aderir todos os guineenses. As autoridades portuguesas não o autorizarão a funcionar porque a maioria dos signatários não possui bilhete de identidade.
Em 1955, o governador Melo e Alvim obriga Cabral a deixar a Guiné, embora lhe permita voltar uma vez por ano, por razões familiares. Entretanto sua consciência política acaba incomodando Melo e Alvim, que consegue articular para que seja enviado para Angola.
Transferido para Angola, trabalha em Cassequel, como engenheiro e tomando contato ativo com os fundadores do MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, ao qual se liga, desde início.

A CRIAÇÃO DO PAIGC
Numa das suas passagens por Bissau, a 19 de Setembro de 1959, aos 35 anos Amílcar Cabral e seu irmão Luís Cabral, e os companheiros: Aristides Pereira, Júlio de Almeida, Fernando Fortes e Elisée Turpin criam o PAIGC - Partido Africano da Independência/União dos Povos da Guiné e Cabo Verde. Numa boa articulação consegue o registro legal do PAIGC, 4 anos depois.
A primeira cidade escolhida para montar um comitê foi Conacri, capital da República de Guiné-Conacri. Nesse período, Amílcar Cabral continuando os seus estudos fitossanitários e agrícolas, viaja freqüentemente entre Portugal, Angola e Guiné.
Em Novembro de 1957 participa em Paris numa reunião para o desenvolvimento da luta contra o colonialismo português, mantém contatos com os militantes de movimentos de libertação de países africanos em Lisboa, em Accra, num encontro pan-africano.
Em Janeiro de 1960, Cabral vai à II Conferência dos povos africanos, em Tunis, em Maio está em Conacri. Ainda neste ano, em Londres, denuncia numa conferência internacional, pela primeira vez, o colonialismo português.

A LUTA ARMADA E OS ALIADOS

Mas as autoridades portuguesas não toleram as idéias anticolonialistas, apesar do líder do PAIGC sempre se disponibilizar para negociações com o Governo português, nunca aceites pelo regime da ditadura.
Entre 1960 e 1962, o PAIGC, Amílcar atua a partir da República da Guiné, desenvolvendo em três objetivos: formar militantes e quadros para a difusão do Partido no interior da Guiné, garantir o apoio dos países vizinhos. Apesar de que a República da Guiné pretendia a utilização dos guineenses do PAIGC na sua própria política e o Senegal se manifestou hostil durante seis anos
Mesmo assim, Cabral conquistou muitos aliados com sua simpatia. A República Popular da China quem dá o primeiro passo, recebendo, em 1960, ele e alguns quadros que ali ficarão preparando a guerrilha e a formação ideológica. Em 1961 o Reino de Marrocos concede-lhe idêntico apoio. Depois os soviéticos lhe forneceram mísseis, para combater a aviação portuguesa. Um magnata italiano que era seu amigo e deu as fardas das tropas guerrilheiras do PAIGC.
Em 1962, desencadeia-se a luta armada contra o Estado Português. As tropas oficiais reagem em 23 de janeiro com o ataque surpresa ao quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau.
Em 1970, o Papa Paulo VI recebe em audiência privada as maiores lideranças dos movimentos de libertação colonial de países africanos: Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos. O evento capta apoio mundial a luta, e enfurece o representante do Governo Português, Séku Turé.
A resposta acontece em 21 de novembro do mesmo ano, com a Operação Militar “Mar Verde” com a finalidade de capturar ou mesmo eliminar os líderes do PAIGC, então aquartelados em Conacri. A operação não teve sucesso.

O ASSASSINATO DO LÍDER
Entretanto 3 anos depois, ás três da madrugada do dia 20 de Janeiro de 1973 de 1973, Amílcar Cabral é assassinado por Inocêncio Kani, um veterano da guerrilha, ex-comandante da Marinha do PAIGC em Conacri. Aristides Pereira, substituiu-o na chefia no comando do Partido.
A morte de Amílcar Cabral, o chefe quase incontestável, desencadeia ódios, num clima de guerra contra o colonialismo português que ninguém quer abrandar. De fato, o Exército Português nada lucra com o assassinato e a guerrilha intensifica suas ações.
Amílcar Cabral foi sepultado no cemitério de Conacri. Desaparece de cena o mais esclarecido dirigente africano da sua geração, o principal teórico da luta armada africana de libertação.
O homem que sempre viveu em coerência com os seus ideais, o líder do movimento guerrilheiro que almejava uma comunidade fraterna que floresceria — em várias ocasiões o escreveu e disse — quando os dois povos levados à guerra se libertassem do opressor comum, seria morto mais vezes.
No dia 24 de Setembro, nas matas de Madina do Boé, o PAIGC declara, unilateralmente, a independência da Guiné-Bissau.

CONSEQUENCIAS POLÍTICAS DO DESAPARECIMENTO DE AMILCAR CABRAL
Amílcar Cabral teve a segunda morte no golpe de Estado de Nino Vieira de 14 de Novembro de 1980 que arrasou o seu grande sonho de fazer da Guiné e de Cabo Verde um único país, ou, pelo menos, uma união de Estados capaz de se impor aos desígnios hegemônicos dos governos de Dacar e Conacri, e desmembrou o PAIGC por ele fundado.
Morreu agora outra vez quando velhos camaradas de armas — os seus antigos camaradas — se digladiaram numa luta fratricida infligindo à Guiné-Bissau uma destruição terrivelmente superior à provocada por onze anos de guerra colonial vendendo, provavelmente, a soberania nacional numa patética tentativa de conservar a bebedeira do poder.

Um Poema de Amílcar Cabral

ILHA
Tu vives, mãe adormecida,
Nua e esquecida,
Seca,
Fustigada pelos ventos,
Ao som de músicas sem música
Das águas que nos prendem…

Ilha:
Teus montes e teus vales
Não sentiram passar os tempos
E ficaram no mundo dos teus sonhos
Os sonhos dos teus filhos
A clamar aos ventos que passam,
E às aves que voam, livres,
As tuas ânsias!

Ilha:
Colina sem fim de terra vermelha
Terra dura
Rochas escarpadas tapando os horizontes,
Mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!
Amílcar Cabral - Praia, Cabo Verde, 1945.

Parte do material foi retirado do site:http://pt.wikipedia.org/wiki/Amílcar_Cabral