segunda-feira, junho 27, 2005

COMBATE AO RACISMO NÃO É GASTO E SIM INVESTIMENTO



Cerimônia da criação da SEPPIR


Toda vez que tem inicio uma Reforma Ministerial, vem ao noticiário à possibilidade de diminuição ou extinção da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, junto com outros órgãos que conquistaram no Governo Lula, o status de ministério. A alegação é de economia de gastos na maquina estatal, mas o combate ao racismo não é desperdício de dinheiro e sim investimento social.
A SEPPIR é um ministério criado no dia 21 de março de 2003, que se comparado aos outros, é pequeno e insuficiente para o tamanho do trabalho que se propõe: criar políticas publicas de promoção da igualdade racial. Ao contrário do que é divulgado, não foi construído apenas para resolver os conflitos da etnia negra e sim de todos os grupos que sofrem no Brasil a discriminação. Por exemplo: judeus, palestinos, ciganos e povos indígenas.
Não é o primeiro órgão governamental montado com essa finalidade. Em seu mandato de prefeito de São Paulo, Luiza Erundina de Souza criou a inovadora CONE - Coordenadoria Especial do Negro, a pedido do Movimento Negro. Em 1991, o Governo Estadual do Rio de Janeiro montou a Secretaria de Estado para Defesa e Promoção da População Afro Brasileira - SEAFRO. Também na estrutura da Prefeitura de Belo Horizonte - Minas Gerais foi organizada a Secretaria Municipal de Assuntos da Comunidade Negra.
Mas sem justificativa política, embasado apenas no discurso da contenção de despesas, a SEAFRO e a Secretaria Municipal de BH foram extintas. Nomes como Diva Moreira em Minas e Abdias Nascimento, no Rio, foram desrespeitados como idealizadores dos órgãos.
Há no momento algumas criticas a SEPPIR, entretanto a maioria é de motivações partidárias. Com poucos anos de existência, não deu tempo ainda para que fosse avaliada como uma experiência boa ou ruim. As políticas publicas sugeridas pelo ministério ainda estão na fase de implantação.
Por isso é necessário, assim como aconteceu com a Fundação Palmares, ter um mínimo de tempo para discussão da eficiência da SEPPIR, mas sua diminuição ou extinção não são alternativas aceitáveis. Ouço inclusive pessoas que torcem para que isso aconteça, não enxergam que o órgão é da Republica Federativa do Brasil, independente de quem esteja no poder. Seja reeleito Lula ou eleito outro candidato, é obrigação da União manter o combate ao racismo.
No país os únicos instrumentos de debate e formulação de ações afirmativas são os conselhos municipais e estaduais da comunidade negra. Mas há estados e municípios onde não há continuidade deles ou mesmo onde os conselhos são fracos em estruturas para um trabalho digno.
O único conselho que parecer ter o mínimo para implantar políticas de promoção da igualdade racial é o de São Paulo, mas está sob ameaça de sair da ligação direta com o gabinete do governador, através da Secretaria da Casa Civil, para ser subordinado a pasta da Justiça e Cidadania. A mudança é talvez motivada pela ocupação da secretaria em questão pelo advogado e militante negro Hedio Silva Junior. Entretanto é importante lembrar que ele está no cargo, não será eterno. O risco de o cargo ser assumido por alguém que não entenda ou não tenha compromisso com a causa negra – é real.
Enfim é necessário manter a SEPPIR como ministério, com o compromisso de rediscutir sua atuação para melhoramento. Também é preciso que os estados sigam o exemplo e transformem os conselhos estaduais em Secretarias e as prefeituras criem suas coordenadorias como fizeram as administrações de São Paulo e Campinas. Algo diferente disso é retrocesso.
Financeiramente também argumentando: o custo da SEPPIR comparado com outros gastos governamentais é pequeno, é preciso que ela seja semelhante aos outros ministérios, tendo repartições em todos os estados. Pode se adotar o deslocamento de funcionários de carreira para essas tarefas, para impedir o prejudicial loteamento de cargos.
Um recado especial para o governador Geraldo Alckmin: foi um grande passo em 1984, o André Franco Montoro criar o Conselho da Comunidade Negra. Por que agora não avançar na criação de uma Secretaria de Estado da Promoção da Igualdade Racial. Está mais do que provado que o Conselho como está já é aquém administrativamente do trabalho que lhe é destinado.

Marco Antonio dos Santos, membro do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade negra de São Paulo.

sábado, junho 25, 2005

RECOMENDAÇÃO DE BLOG E SITE


Antes de participar, se informe!!!

Para todos recomendo o Blog http://palavrasinistra.blogspot.com/ e site da Revista Afirma www.afirma.inf.br . Sou assíduo leitor dos dois pela qualidade do material e a seriedade dos colunistas e do editor Marcio Alexandre M. Gualberto, jornalista afro brasileiro, militante do Movimento Negro.
A leitura do blog e do site é obrigatória para quem quer participar dos atuais temas, principalmente das ações afirmativas. Uma Dica: leia a critica dele a Nova novela da Globo: Alma Gêmeas! Como diz o Alberto Dines; você nunca vai ver tv ou jornal do mesmo jeito!

SAIU NO PORTAL AFRO: NETINHO ESTÁ MONTANDO UM CANAL TV NEGRO


O empresário José de Paula Neto- Netinho da TV, está querendo abrir um Canal de Tv Aberto, com programação ligada a Comunidade Negra.O objetivo será o de apresentar ao público telespectador uma programação variada, incluindo-se Jornalismo, lnfantil, Mulheres, Esportes e Telenovela. A idéia é que a nova emissora de Tv entre no ar até 2006.
Vamos torcer. Maiores informações no Portal Afro www.portalafro.com.br

sexta-feira, junho 24, 2005

CENSO ESCOLAR: QUAL A SUA COR?


O Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, está realizando este ano o primeiro Censo Escolar Étnico do Brasil. Pais e estudantes já devem ter se deparado com a pergunta mais profunda dessa pesquisa: qual é sua cor ou raça? As duvidas e respostas têm gerado controvérsias de Oiapoque ao Chuí, pelo simples fato da questão cutucar feridas centenárias nesta nação.
Segundo teoria dos sociólogos apoiados em Gilberto Freyre no Livro - Casa Grande Senzala e depois em Darcy Ribeiro no Livro - Povo Brasileiro, o Brasil é fruto de uma cordial miscigenação entre etnias, que de fato aconteceu biologicamente, mas não economicamente. Ou seja, pode-se dizer que o Brasil é um país de mestiços, mas a mistura de cores de peles não aconteceu na distribuição de rendas.
Por outro lado, se assumir como negro, não é fácil. Massacrado por preconceitos e racismo, que tem base até em fantasiosas pesquisas cientificas, a inferioridade dos descendentes de africanos é reforçada. Um exemplo: em 1758, o botânico sueco Carolus Linaeus, fazia a seguinte classificação dos homos sapiens: os vermelhos americanos como geniosos despreocupados e livres; os amarelos asiáticos como severos e ambiciosos; os negros africanos como ardilosos e irrefletidos e os brancos europeus como ativos, inteligentes e engenhosos.
Foi com base nesse tipo de estudo, que índios, negros e asiáticos foram dominados e levados por uma pedagogia eurocentrista a ver o Velho Mundo como o centro da Civilização e o restante como periferia. Hoje todo mundo ter orgulho de dizer que tem antepassados na Itália, Espanha e até na França. Mas ninguém bate no peito e diz que é descendente de tupi guaranis, de bantos, ou chineses.
Esse Censo Escolar não trará soluções e sim diagnósticos. É como examinar o sangue de uma pessoa para saber como ela está. Um dos remédios é a real aplicação da lei federal 10.639 que fala da obrigatoriedade do Ensino da África e do Negro nas escolas, sejam particulares ou publicas. Uma parte do problema estará resolvida.
A explicação correta dos fatos históricos derrubará vários mitos de superioridade e de inferioridade. Por exemplo, lembrar que a medicina européia é fruto da tradução de manuais árabes, enquanto, os africanos através do Islamismo já tinham escreviam nesta língua desde o ano 600 DC. É bom lembrar que o ato de comer com garfo, conceitos de matemática, química e física, foram levados aos europeus pelos povos orientais.
Enfim: todos somos iguais perante a lei, mas filhos de povos de diferentes culturas. Equilibrar isso irá gerar a tão sonhada justiça social, mãe da democracia racial.

Publicado no Jornal Gazeta de Bebedouro, no dia 23 de junho de 2005, na “Coluna Preto no Branco”.


TEM NEGRO NO PROGRAMA “ O APRENDIZ 2”
O
O reality show “O Aprendiz 2”, apresentador pelo publicitário Roberto Justus tem entre os 16 candidatos ao salário de 250 mil reais por ano, um competidor afro brasileiro. É Antonio Marcos, formado da UNIP – Universidade Paulista no curso de Ciências da Computação.
O programa é uma versão nacional do original apresentado pelo extravagante empresário norte-americano Donald Trump. Haverá mais 15 capítulos a serem exibidos sempre as terças e as quintas feiras. Segundo a TV Record em publicidade o reality show já faturou 31 milhões de reais.
Ainda sobre a participação de Marcos, é a primeira vez que isso acontece no Brasil, ao contrario da versão americana onde participaram afro americanos. Na primeira edição, Justus quando questionado a ausência de negros entre os participantes, afirmou não ter se preocupado na formação étnica do grupo.
Uma característica de “O Aprendiz” é reforçar os ideais do Capitalismo Selvagem: só vence quem sabe fazer a empresa ganhar mais dinheiro. Quem transparecer que poderá como executivo dar mais lucro - será o vencedor.
O que Karl Marx diria disso?

Marco Antonio dos Santos, 35 anos, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade negra de Bebedouro/SP.

quinta-feira, junho 23, 2005

RACISTAS NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL!


Quarenta e um anos depois dos assassinatos de três ativistas dos direitos civis no Mississipi, um ex-membro da Ku Klux Klan , de 80 anos de idade, foi condenado pela Justiça dos Estados Unidos nesta terça-feira, Edgar Ray Killen . Ele pode passar o resto da vida na cadeia.
Mas na USP- Faculdade de Direito Largo São Francisco um Jornal com texto racistas foi distribuido e ninguém assume a autoria
Esse é o nosso Brasil! Cotas Neles!!!!

ALI - EXCELENTE FILME !


O filme é bom, só exagera ao dár muito tempo nas relações pessoais de Ali. Uma das partes mais interessantes são de sua convivencia com Malcolm X. Imperdivel. A luta final é impressionante. Exibi esse filme em telão na periferia de Bebedouro, bairro Alto da Boa Vista, e povo vibrava com as lutas.Pena que nenhum canal aberto prevê sua exibição.

quarta-feira, junho 22, 2005

ABDIAS: UMA VIDA PELO POVO NEGRO!



Antes do meu aniversário, dia 15 de março, sempre me recordo que um dia antes, dia 14, nasceu em 1914 o mais persistente militante negro brasileiro: Abdias do Nascimento. Esse ano ele completou 91 anos, dos quais 74 anos foram dedicados ao fortalecimento da Consciência Negra. O incrível é que ele veio ao mundo antes de Malcolm X, 1925 e Martin Luther King em 1929, sobrevivendo até hoje na luta contra o racismo. Foi deputado federal e senador da republica, mas isso ainda é pouco da definir o que foi sua historia.
A vida de Abdias começou em Franca, interior de São Paulo, filho de um sapateiro e de uma dona de casa. Cidade com empregos na indústria calçadista, mas no inicio do século 20, as oportunidades estavam também restritas a cultura do café. Para Abdias havia dois caminhos nessa realidade: seguir o destino do pai e tornar-se sapateiro ou trabalhar na colheita do café. Nesta fase da vida ele credita a sua mãe, ter lhe plantado a semente da luta pelos direitos ao orientá-lo a reagir às ofensas racistas no ambiente escolar.
Com 17 anos, o jovem Abdias vê como única forma de ascensão social o alistamento militar e entra no Exercito. E vai para São Paulo, capital do estado, onde toma contato com a efervescência intelectual da época e o já existente movimento negro. Participa da fundação da Frente Negra Brasileira.
A Frente Negra é uma organização não governamental que se iniciou com idéias assistencialistas, mas que no decorrer de sua existência tornou-se uma entidade de combate ao racismo. Chega em 1935 a lançar um partido político de predominância afro brasileira, mas sofre um golpe, quando em 1937, Getulio Vargas, numa canetada extinguiu a legenda. Há quem diga que o crescente prestígio junto à comunidade negra teria assustado a elite, que incentivou Vargas a tomar a atitude.
Mas não é a primeira vez que as idéias de Abdias enfrentariam Vargas. Em 1932, ele se alia ao lado paulista na “Revolução” Constitucionalista. Também é nessa época que Nascimento protesta junto aos comerciantes paulistas sob o tratamento dado aos negros, tanto na ausência de funcionários afro-descendentes e no atendimento prestado. Já começa a ser visto como radical, tanto por brancos, quanto pelos negros conformados com a situação.
Em 1937 as denuncias de discriminação racial levam Abdias para cadeia, condenado com base na Lei de Segurança Nacional. É encarcerado na Penitenciária Frei Caneca. Solto no ano seguinte, Abdias é chamado a Campinas onde forma um núcleo de combate ao racismo que tinha como objetivo discutir e debater formar de eliminação das desigualdades raciais. Pioneiro para época. Também é em 38, que consegue finalmente se graduar em Economia no Rio de Janeiro.
Com 26 anos, Abdias é chamado a excursionar integrando a Santa Hermandad Orquídea, composto de artistas brasileiros e argentinos. No Peru, em Lima, assiste uma peça de teatro que iria mudar o modo de pensar a arte e o povo negro: Imperador Jones – peça de Eugene O Neill, que apesar do personagem negro é representada no palco pelo ator branco Hugo D`Evieri, que maquia o rosto, num típico black face.
Assistindo a peça e prestando principalmente atenção no ator, Abdias percebe que além dos teatros de bonecos, nunca tinha tido contato com essa arte. E pior, não se lembrava de atores ou atrizes negras interpretando, exceto as pessoas que exerciam dentro dos estabelecimentos artísticos as funções de serviçais, camareiros ou costureiras.
Abdias passa a morar na Argentina, mas começa a formular o projeto do Teatro Negro Experimental a ser implantado quando retornar ao Brasil. Em 1941 pisa em solo nacional, mas é surpreendida com uma ordem de prisão com base num processo julgado a sua revelia. Era uma acusação de 1936, de ter respondido a agressões racistas.
Dentro da Penitenciaria do Carandiru por quase dois anos, Abdias logo se socializa com os outros detentos e juntos formulam o Teatro do Sentenciado, escrito, dirigido e interpretado pelos presos. Ele conclui que o tempo ocioso das penas poderia ser aproveitado na arte. Proposta só adotada pelos governos só nos dias de hoje, mas ainda em pouco uso.
Finalmente em 1943, Abdias consegue sair da prisão e imediatamente retorna seus esforços para criar o Teatro Experimental Negro, mas recebe uma fria acolhida dos intelectuais e artistas paulistas. Mario de Andrade até se interessa, mas acha a proposta muito avançada. Diziam a ele “se coloca o negro no teatro, seria apedrejado”. Mas ele não desiste e muda-se para o Rio de Janeiro em busca de aliados para a proposta.
No Rio, Abdias começa seu projeto, entretanto encontra um obstáculo inesperado: há poucos negros com formação para o teatro. Em conjunto com a UNE - União Nacional dos Estudantes parte para alfabetização de alunos, não só ensinado a escrever, mas dando uma consciência critica artística e negra.
Finalmente com 31 anos, em 1945, Abdias consegue enfim estrear uma peça teatral na concepção do TEN. No dia 8 de maio, a peça é Imperador Jones, vivido no palco como deveria, por um ator negro – Agnaldo Camargo. A repercussão foi espetacular, sendo a novidade da arte naquele ano.
Nesta mesma época a atuação dele, não se resume apenas ao TEN, formando junto com outros negros brasileiros o Comitê Democrático Afro Brasileiro, na luta pela anistia para os presos políticos do período Vargas. Também é neste ano que em conjunto com outros intelectuais realiza com duas plenárias lotadas – São Paulo e Rio de Janeiro – na primeira Convenção Nacional do Negro.
A Convenção não é realizada por acaso. É véspera da Assembléia Constituinte e o grupo que Abdias participa já consegue entender que somente com alteração da legislação poderiam fazer o combate ao racismo. O documento final da reunião é hoje um embrião das ações afirmativas brasileiras, pois pede apoio a estudantes negros, a empresários afro-brasileiros com isenção de impostos e reivindica que o racismo fosse considerado crime federal. A visão dos participantes é pioneira, pois pede que a Constituição Federal reconheça a formação étnica brasileira, constando à contribuição de todos os povos, não só os brancos.
A proposta de transformar em lei federal a punição aos racistas é encampada pelo senador Hamilton Nogueira não é aprovada na Constituinte. Anos depois Afonso Arinos consegue o meio termo: transforma em infração penal as praticas de discriminação racial.
Esse episódio leva Abdias a entender que é necessário participar da política e em 1946, aceita o convite para fundar o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro. Dois anos depois cria uma seção do partido contra discriminação em conjunto com outros filiados, entre eles Sebastião Rodrigues Alves.
Esse tipo de organização existe hoje em alguns partidos como no PT – a Secretaria de Combate ao Racismo e está sendo organizada no PSDB sob o nome de Tucanafro. Mas na década de 40, os partidos políticos não discutia e nem reconheciam como problema serio o racismo. Dentro do PCB de Luis Carlos Prestes, os militantes negros eram apelidados de integrantes de TEN, como descreve os professores Flavio Gomes e Elisabeth Viana, no livro De Preto a Afro-Descendente.
Com 35 anos, aliado com Guerreiro Ramos e Edson Carneiro, respectivamente sociólogo e antropólogo, realiza a Primeira Conferencia do Negro Brasileiro. Funda também o Quilombo, órgão de divulgação do TEN. O jornal circula por dois anos e o conjunto desta obra pode ser adquirido em livrarias sendo uma ótima fonte de pesquisa sobre o pensamento negro da primeira metade do século 20.
1950, finalmente o TEN consegue organizar o Primeiro Congresso do Negro Brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro. O evento reuniu militantes, intelectuais e cientistas motivados no esforço da Unesco que tinha como meta no período, o monitoramento das relações raciais. Funda-se no calor dos acontecimentos o Instituto Nacional do Negro com a proposta de pesquisar a situação da população afro brasileira.
Um Concurso de Artes Plásticas cria um conflito entre Abdias com a Igreja Católica. É 1955, e o objetivo é retratar um Cristo Negro – em oposição à imagem européia de Jesus mostradas nas imagens sacras. Só consegue ser compreendido pelo progressista bispo Dom Helder Câmara. Dois anos depois com turnê no Rio de Janeiro e São Paulo o TEN encena a peça de sua autoria: Sortilégio: Mistério Negro.
È bom registrar que antes disso, o TEN encenaria as peças “Todos os Filhos de Deus tem Asas”, “Filho Pródigo” de Lucio Cardoso e “Aruanda!” de Joaquim Ribeiro. Nesses anos lança uma atriz que faria historia no teatro, cinema e televisão - Ruth de Souza.
O TEN consegue além de debater a situação do negro, leva o teatro brasileiro a fazer uma revisão de suas bases conceituais e estéticas. Não só através de apresentações, mas também com seminários e encontros o TEN ajuda nessa transformação. Abdias analisa que “o Teatro Negro Experimental é um processo”, “A Negritude é um Processo”.
Em 1964 acontece o golpe militar, deixando Abdias com 50 anos, já preocupado, tinha sofrido perseguição política durante a ditadura Vargas e já previa o mesmo a partir daquele ano. Mas segue militando e em 68 lança o Museu de Arte Negra com exposição inaugural no Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Mas visado pela repressão, deixa o país em direção aos Estados Unidos onde a Fundação Fairfield o convida a realizar uma serie de palestras em solo americano.
Em 1969, o exilado Abdias atua como conferencista na Universidade de Yale e inicia como artista plástico exposição de telas sobre a cultura negra do Brasil e sobre a luta dos povos africanos pela independência. Nos Estados Unidos é ainda convidado pela Universidade de Wesleyan em Middletown, Connecticut onde participa do Centro para Humanidades, convivendo com os intelectuais como Norman Mailer, Normam Brown, John Cage, Buckminster Fuller, Leslie Fielder.
No ano do Tri-Campeonato da seleção brasileira de futebol, na Universidade de Nova Iorque, Abdias começa a exerce a função de professor de Culturas Africanas até 1981. Em 73 participa da Conferencia de Planejamento do Sexto Congresso Pan Africano, em Kingston, na Jamaica - terra de Marcus Garvey. O Congresso acontece no ano seguinte na Tanzânia e ele é o único representante da América Latina.
Durante um ano aproximadamente como professor visitante Abdias deu aulas no Departamento de Línguas e Literaturas Africanas na Universidade de Ifé, na Nigéria.
Após anos de exílio, Abdias volta a se ligar ao Brasil na participação do grupo liderado pelo ex-governador Leonel Brizola na tentativa de refundar o extinto PTB. Mas eles são surpreendidos por Ivete Vargas, que toma a legenda, os forçando a fundar o PDT - Partido Democrático Trabalhista. Ele só aceita participar da iniciativa ao convencer Brizola a adotar uma linha dentro do partido de combate ao racismo.
No Brasil, já em 1978, Abdias participa da histórica fundação do Movimento Negro Unificado em São Paulo, entidade que ajuda inclusive a criar núcleos pelo país, usando seu prestigio. E ele é grande, tanto é que em 1979, um bloco de congressistas norte-americanos o convida a palestrar em Washington. No ano seguinte lança o livro O Quilombismo que traz sua visão de estratégia e pensamento sobre o movimento negro no Brasil e no mundo, obra importante, mas pouco divulgada. Participa da organização do Memorial Zumbi, na Serra da Barriga, Alagoas, que luta pelo resgate arqueológico do Quilombo dos Palmares.
Em 1981 Abdias funda o Instituto de Pesquisas e estudos Afro-Brasileiros – o IPEAFRO, nas dependências da Pontifícia Universidade Católica em São Paulo. Dentro do PDT, a exemplo do que tinha feito no PTB 33 anos antes, funda a Secretaria do Movimento Negro da legenda.
Finalmente em 1983, assume como deputado federal do PDT, pelo estado do Rio de Janeiro, no Congresso Nacional. Não é o primeiro afro-descendente, mas destaca-se pela defesa intransigente das reparações aos negros pela Escravidão, travando fortes debates com deputados e senadores. É novamente visto como radical, tanto por políticos e mídia. Seu mandato terminou em 1986.
Ainda neste ano a vida de Abdias é agitadíssima. Participa do Simpósio de apoio à luta do povo da Namíbia pela independência, visita a Nicarágua onde conhece a comunidade negra local. Novamente a convite de parlamentares negros, discurso no Congresso Norte Americano. Fato que repete em 85, devido à repercussão. E assim segue por anos, com vários convites a palestras nos Estados Unidos, África e Europa.
No ano do Centenário da Abolição, em 1988, Abdias é uma das vozes discordante do tom comemorativo do Governo Federal, unindo-se as lideranças negras. Participa nos anos seguintes como presidente do Memorial Zumbi da Fundação Palmares e é convidado de honra na cerimônia de independência da Namíbia.
Durante o Governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro, funda em 1991, o primeiro órgão de estado direcionado aos problemas da população negra – é a Secretaria de Estado da Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras, onde trabalha até 94. Participa da 48ª Conferencia do Congresso Nacional Africano – CNA, presidida pelo recém liberto líder Nelson Mandela, realizado em Durban.
Com a doença de Darci Ribeiro, assume em 1991, a cadeira de senador da republica onde fica até 1992. Retorna ao cargo definitivamente em 97 com a morte do titular onde permanece até o fim do mandato em 1999. Sobre sua participação na política Abdias diz que sempre teve votos de negros e brancos progressistas que entenderam a importância de sua luta.
Exerceu ainda o cargo de Secretario de Estado dos Direitos Humanos e Cidadania em 1999 e em 2000 coordenou o Conselho dos Direitos Humanos.
Abdias apesar das dificuldades físicas geradas pela idade, ainda exerce forte influência no Movimento Negro, sendo convidado na cerimônia de criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, no Governo Federal, criada por Lula e chefiada pela ministra de estado Matilde Ribeiro. Houve uma campanha para indicá-lo ao Premio Nobel da Paz por seu trabalho internacional pela causa negra. Foi em 2004, coordenada pelo advogado e militante negro Humberto Adami.
Ele ainda diz “sou intransigente quando o assunto é racismo”. Os textos e propostas do TEN ainda são considerados avançados hoje, mas são pouco estudados pela classe artística. Suas ideais impressas no quilombismo, involuntariamente são as bases do pensamento do contemporâneo movimento negro, apesar de não usar os termos atuais como ações afirmativas, discriminação positiva. Também é necessária uma releitura para se entender que ninguém está inventando a “roda” no movimento negro.
Considerado um grande intelectual internacionalmente e quase desconhecido em sua terra natal, Abdias é o registro vivo da luta do negro no mundo no século 20. Não teve a notoriedade de Malcolm X ou Martin Luther King, pois nunca teve uma grande organização nacional de apoio como eles tiveram. Além disso, fazer o combate ao racismo num país como os Estados Unidos que não teve nenhuma interrupção democrática e fazer no Brasil onde enfrentou duas ditaduras: é uma diferença brutal.
Outro diferencial entre Martin Luther King, Malcolm X e Abdias é que os lideres norte-americanos tiveram um espaço nos meios de comunicação, sempre negado ao militante brasileiro. Lá o debate foi e é cotidiano e no aqui, apenas acontece nos dias 13 de maio e 20 de novembro. E religiosamente o Movimento dos Mulçumanos Negros e os Pastores Negros, não têm similar no Brasil, onde as igrejas e cultos em sua grande maioria são conservadores na questão do negro e o discurso defendido é da democracia racial.
Entretanto ele era visto pelas autoridades brasileiras como radical e tão perigoso quanto Malcolm e Luther King e só não morreu assassinado também, por sair do país, pois correu o risco de ser torturado e morto, como elemento subversivo. Na era Vargas chegou a ser preso por sua luta negra.

Talvez sua longevidade seja fruto da esperança de assistir os frutos de sua militância se concretizar. Abdias Nascimento com sua barba branca e sua elegante bengala traduz a imagem de Moises que lidera a libertação do povo hebreu do Egito, mas conscientemente não quer ter o mesmo fim de historia: quer assistir os negros numa era de superação do racismo.Autor: Marco Antonio dos Santos, membro do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de SP

terça-feira, junho 21, 2005

MARCUS MOSIAH GARVEY



Um deus! Uma Inspiração! Um destino!

“Um só amor! Um só coração!
Vamos seguir juntos para ficarmos bem”.
Bob Marley - One Love! (tradução)


No dia 10 de junho, completou-se 65 anos da morte do líder Marcus Mosiah Garvey, considerado um dos pais do Pan Africanismo. O caçula de 11 irmãos nasceu em Saint Ann Bay, Jamaica, no dia 17 de agosto de 1887. Seu drama já começa cedo, tendo que conviver com a morte de 9 de seus irmãos, devido às condições sócias econômicas da família.
Apesar de um ser considerado ótimo aluno na escola elementar de saint Ann Bay, sua vida, tem um impulso quando seu padrinho, Alfred Burrowes, proprietário de uma pequena gráfica, começa a dar aulas particulares e ceder livros para sua formação intelectual. Outra grande influência é de seu pai, um membro da maçonaria jamaicana, que também tem sua pequena biblioteca, freqüentada pelo filho quase que diariamente.
A infância de Marcus foi simples para padrões da Jamaica. Nadava e praticava esportes com garotos de sua idade. Mas aos 14 anos acaba se apaixonando por uma vizinha da mesma idade e a proibição da família dela de que mantenham os laços, através de correspondências, o marca profundamente como o primeiro ato de discriminação. Na mesma época, Garvey inicia-se na vida profissional como aprendiz de gráfico.
Aos 19 anos, Marcus vai tentar a vida na grande cidade de Kingston onde passa a trabalhar na empresa P.A. Benjamin Limitad. Devido ao seu desempenho, no ano seguinte já é promovido a impressor e contramestre. Mas sua consciência critica o leva participar em 1908 de sua primeira greve. É demitido e nenhuma outra gráfica, num acordo informal – o contrata. Só consegue emprego numa gráfica pertencente ao governo jamaicano.
O militante negro começou sua carreira de jornalista através do jornal Watchman e depois escreve para o respeitado National Club Of Jamaica.
No ano de 1910, Marcus tem sua primeira chance de viajar para o exterior, indo para Costa Rica, como fiscal de plantações de banana. No campo, percebeu as péssimas condições de vida dos trabalhadores negros. Sua indignação aumentou ao visitar a Guatemala, Panamá, Nicarágua, Equador, Chile e Peru onde trabalhadores de outras etnias eram explorados.
Cansado de só assistir, Marcus, publica artigos nos jornais La Nacionale – Costa Rica e La Prensa no Panamá, mas sem obter repercussão. Ele é incompreendido nesses países e em sua terra natal.
Dois anos depois Marcus muda-se para Londres, junto com sua irmã, Indiana, onde toma contato pela primeira vez, através dos emigrantes africanos, com a Arte e Cultura de diversas etnias da África. Também é na capital do império inglês, que o militante conhece noticias sobre a condição social dos afro-americanos e o sistema de segregação vigente.
Desse período a amizade que mais lhe influência é a do nacionalista egípcio Duse Muhammad, autor do The African And Orient Review – que tem na proposta, a revisão na forma que a historia da África é contada até então. Também foi em Londres que tomou contato com a obra de Booker T. Washington – um dos pensadores do Movimento Pan Africano.
Já de volta a Jamaica, no dia 1 de agosto, Marcus funda a Universal Negro Improvement Association – que ficou conhecida como UNIA – com o lema – Um Deus, Uma Inspiração, Um destino! A Organização Não Governamental tinha como objetivos; promover a consciência negra, lutar pelo desenvolvimento econômico da África, e incentivar a criação de estabelecimentos de ensino negros que ensinassem também línguas africanas. A sede humilde da entidade foi no numero 30 da Rua Charles, em Kingston. Depois a entidade se mudou para a Rua king, no prédio chamado Liberty Hall.
Mas o sucesso não foi imediato, pois seus compatriotas negros, não acreditavam em suas idéias. Garvey respondia que eles queriam mesmo é continuar tentando serem reconhecidos como cidadãos brancos.
Em 1916, Marcus parte para os Estados Unidos, para se encontrar com o seu considerado mentor, Booker Washington, que infelizmente devido a problemas de saúde, falece antes de reencontrar o pupilo. Mas em terras norte-americanas, Marcus passa a divulgar suas idéias em forma de palestras, viajando pelos Estados Unidos a convite de comunidades negras.
Na terra dos ianques, a Ong UNIA aumenta seus filiados e subsedes, alcançando o numero de 1.100, em mais de 40 paises. Existiam escritórios da entidade nas Américas Central e do Sul e África. No Harlem, bairro pobre de Nova Iorque, ele publica pela primeira vez o jornal Negro World, com idéias revolucionárias de nacionalismo negro. O periódico chegou distribuir 50 mil exemplares por edição.
Na influencia do Negro World, surgiram outras publicações nos Estados Unidos – The Daily Negro Times, The Blackman, The Jamaican e The Black Man Magazine. Ele escrevia “para cima, você raça poderosa, você pode realizar o que quiser”.
No dia 18 de agosto de 1920, Marcus é eleito simbolicamente presidente provisório da África, onde ele aproveita a cerimônia para denunciar a situação de miserabilidade dos paises africanos e das ex-colônias européias na América. Mas Garvey era proibido de pisar dos paises africanos ou em colônias ingleses, devido sua fama de revolucionário. Mesmo assim chega a redigir e divulgar uma Declaração Universal dos Direitos dos Negros.
Era considerado um excelente orador, pregando o orgulho negro e o desenvolvimento econômico da África, com ajuda de todos afro-descendentes espalhados pelo mundo. Um conceito correspondente ao nacionalismo dos judeus que depois conseguiram fundar Israel, ocupando a Palestina. Garvey dizia “ Somos descendentes de um povo sofrido. Somos os descendentes de um povo decidido a não mais sofrer. Etiópia “é a terra de nossos pais”. Uma idéia defendida por rastafaris.
Os seguidores de Marcus eram denominados garveistas, que defendia inclusive o questionamento da Bíblia Sagrada, alegando que há uma deturpação das escrituras sagradas do aramaico, quando descreve, Adão, Abrão e Jesus, como brancos. Até uma versão negra da bíblia foi editada – Holy Piby.
Nos Estados Unidos, Garvey funda a Line Black Star – uma companhia de navios a vapor, que tinha uma linha entre Estados Unidos e Jamaica – destinada só para passageiros negros. O negocio se revelou rentável, movimentando em seu auge milhões de dólares e despertando inveja dos concorrentes. Mas em 1922 acabou falindo, num caso mal explicado de suposta fraude do correio e levando o líder para cadeia dois anos depois.
Durante o julgamento ele dispensou ajuda do advogado, se encarregando sozinho de sua defesa judicial. Mas foi condenado em 1925, com a pena reduzida, pelo presidente Calvin Cooligde, em troca de sua deportação para a Jamaica. Esse evento acaba abalando sua reputação, e da UNIA, mas permanece em militância até sua morte em 1940, em Londres, de pneumonia, após dois derrames. Seu corpo é embalsamado e enterrado no cemitério Kendal Green.
Somente em 1964 teve sue trabalho reconhecido na Jamaica, nomeado herói nacional, e seu corpo transladado e colocado no National Heroes Park. Desde 1980 é figura reconhecidamente na sala de heróis da Organização dos Estados Americanos. Hoje existem nos Estados Unidos e na Jamaica, prédios, faculdades e até ruas com seu nome.
Prevendo o destino da luta negra após sua morte, Garvey disse “eu sou só o precursor de uma África acordada que deve nunca voltar dormir”.
Marco Antonio dos Santos, 35, militante negro, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de São Paulo.

RACISMO NO FUTEBOL



Quem vê o atacante Robinho na seleção brasileira, não sabe que no inicio do século passado, a participação de negros numa equipe de futebol era proibida. Oficialmente o primeiro clube a aceitar afro brasileiros foi o Bangu e o Vasco da Gama é pioneiro numa briga contra as grandes agremiações que queriam criar no Rio de Janeiro uma liga com jogadores só brancos.
A resistência vascaína é registrada no oficio do clube, no dia 7 de abril de 1924, feito pelo presidente José Augusto Prestes ao dirigente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos. Era exigida a saída de 12 atletas negros da equipe, o que foi rejeitado pela diretoria do time. Flamengo e Botafogo aceitaram a imposição, mas a regra acabou caindo em 1925. Há quem diga que isso tudo foi porque o Vasco foi campeão carioca em 1923.
No Rio Grande do Sul, o primeiro time a aceitar negros foi o Internacional, sendo que seu arqui rival – o Grêmio só veio a imitar o ato no dia 4 de março de 1952, com a contratação do craque Osmar Fortes Barcellos - o Tesourinha. Entre os gaúchos o racismo era tão forte que os negros chegaram a criar a Liga da Canela Preta, com equipes só de jogadores afro-descendentes, existente entre os anos de 1915 a 1930. Os brancos jogavam na Liga Nacional de Futebol de Porto Alegre. As Ligas José do Patrocínio e Rio Branco – também foram organizadas com essa finalidade, em um verdadeiro sistema de apartheid nacional.
A entrada do negro no futebol - a acabou criando o futebol arte. Segundo o jornalista Mario Rodrigues Filho – Autor do livro O Negro NO Futebol Brasileiro – a drible nasceu da necessidade jogador afro brasileiro desviar-se de um zagueiro branco e não cometer falta. Os juizes dos jogos na época puniam duramente, se um jogador branco sofria alguma agressão durante a partida por um atleta negro.
O Fluminense proporcionou na década de 20, um episodio hilário: Carlos Alberto, craque do tricolor carioca era obrigado a colocar pó de arroz – cosmético feminino – no rosto. Durante o calor da partida, o produto foi escorrendo com o suor. A torcida adversária não perdeu tempo: começou a chamar o Fluminense de time pó de arroz – fama que existe até hoje. Mas os jogadores em varias equipes eram obrigados a colocar redinha no cabelo para disfarçar e havia aqueles que até alisavam.
Mas em 1919, um jogador de mãe negra e pai alemão, já provava em campo que dentro das quatro linhas na cabia o racismo: Arthur Friedenreich Filho, que conquistou inclusive dois campeonatos sul-americanos para o Brasil, inclusive em contra os argentinos. Há quem diga que fez 1239 gols, 50 menos que Pelé.
É incrível, mas isso tudo já aconteceu no Brasil.

Autor: Marco Antonio dos Santos, membro do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo

quinta-feira, junho 16, 2005

EU A PATROA E AS CRIANÇAS


Uma série interessante que o SBT está reproduzindo. Produções com atores negros dos Estados Unidos, fazem a gente pensar, quanto de nossos talentos afro brasileiros não não aproveitados! Eu não perco um episodio, e grava todos. Depois eu e a padroa damos risada

terça-feira, junho 14, 2005

LUIS GAMA - ADVOGADO DA ABOLIÇÃO



No próximo dia 21 de junho, será comemorado mais 175 anos do aniversário do advogado e militante negro, Luis Gonzaga Pinto da Gama, filho da líder da Revolta dos Malês, Luiza Mahin e de uma pai português, na cidade de Salvador. Um dos lideres negros do processo de Abolição da Escravidão, nasceu livre, mas por causa de uma divida de jogo do pai e exílio da mãe, foi vendido como escravo.
O pai de Luis Gama era um rico português, quem tinha ganhado uma grande fortuna deixada pela família. Entretanto o vicio do jogo, acabou torrando a herança e para pagar uma divida, deu o filho, com apenas 10 anos de idade, como forma de pagamento. Luis Gama foi embarcado num navio de trafico interno de escravo, para o São Paulo. Por causa disso, adulto, Gama omitiu de sua biografia o nome do genitor.
Em São Paulo, é comprado pelo alferes Antonio Pereira Cardoso, que tem uma fazenda em Lorena, Vale do Paraíba. No ano de 1847 uma amizade mudou a vida de Gama, Antonio Rodrigues do Prado, estudante e idealista passa a ensinar a ler e escrever o jovem Luis com então 17 anos. No ano seguinte, ele foge da fazenda, se alistando no Policia.
A carreira de Luis no Exercito dura 6 anos. Dá baixa como soldado, após ser injustamente preso, por reagir a insultos racistas de um oficial. Na Policia é ocupada em seu Oficialato por filhos de famílias proprietárias de negros escravizados e tratam os subordinados de forma semelhante. O retorno ao Serviço Público, acontece em 1856, quando Luis Gama é contratado como escrivão de Policia, mas foi demitido, acusado de sedicioso e turbulento.
Com o pseudônimo de “Afro”, Gama começou a escrever no jornal paulistano de nome “O Ipiranga” e se aventura a escrever seu primeiro livro: Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, com poemas que satirizavam os aristocratas e os políticos do período. É publicado em 1859 e faz um sucesso.
Contagiado pelo sucesso como escritor, Gama, decide lançar um jornal de criticas humoradas. O nome diz tudo – “Diabo Coxo”. Através dessa publicação, Luis inicia sua campanha pessoal contra o sistema de escravidão, às vezes com denuncias diretas, às vezes com uma dose de ironia. Nesse meio tempo se forma advogado e começa a defender judicialmente os escravizados em processos de alforria.
Durante um processo Luis Gama agindo na defesa de um jovem negro escravizado acusado de assassinar seu proprietário disse: “Perante o Direito, é justificável o crime do escravo perpetrado na pessoa do Senhor”.
Alegava ainda que a luz do direito, todos os africanos escravizados estavam nessa condição ilegalmente devido à vigência da uma lei de 7 de novembro de 1831. Gama argumentava que todas as pessoas em condição de cativos com menos de 62 anos, eram na verdade legalmente livres, diante da legislação vigente. Dessa forma teria conseguido a libertação de mais de 1.000 afro-brasileiros.
Como militante negro abolicionista sempre ajudava financeiramente os recém alforriados, recordando as dificuldades que ele próprio tinha passado na mesma condição.
Tinha como admiradores de sua luta, os advogados Rui Barbosa e Joaquim Nabuco além do poeta Castro Alves. Em 1880 já era considerado o mais radical dos abolicionistas.
Mas sua saúde impossibilitou que pudesse assistir em 1888 a aprovação da Lei Áurea e o fim da escravatura. Morre no dia 24 de agosto de 1882, com 52 anos, sendo enterrado com grande cortejo, dia 25, e o seu caixão carregados por negros que foram antes escravos. Ainda no enterro, o discurso foi feito por Antonio Bento de Souza e Castro que era líder do grupo formado por pessoas de etnia branca, mais feroz opositor contra a escravidão – os Caifazes, que resgatava das senzalas os cativos.
Terminado o processo de Abolição, sua figura foi esquecida e é mais lembrada em aulas de Literatura Brasileira, inclusive quando isso acontece. Tido como “radical” pelos políticos abolicionistas e “moderado demais” por quilombolas, Luis Gama é um personagem da Historia oficial que certamente merece mais destaque devido o papel decisivo para o fim da escravidão oficial no Brasil.

domingo, junho 12, 2005

GENEALOGIA DA CORRUPÇÃO?


A Boca fala do que o coração está cheio e isso foi o que aconteceu no caso do ator global Raul Cortez que de tanto atuar pensou que fosse um antropólogo e culpou a genealogia do povo brasileiro a corrupção. Ele que estava na inauguração da Daslu – Loja onde uma peça de roupa custa 50 mil reais e é obvio que ele estava opinando sobre o caso envolvendo o Governo Lula.
Mas devido uma Revisão da Historia do Brasil mal pesquisada e cheia de preconceito ficou comum dizer que os problemas do país são fruto da formação da população. Para não pousar de racista o ator se referiu especificamente aos portugueses que povoaram o território nacional e mesmo assim, cometeu um equívoco.
Os portugueses que foram deixados como degredados não eram em sua totalidade bandidos. A grande maioria eram presos políticos ou religiosos. Explico: as pessoas acusadas de praticas religiosas não condizentes com a Santa Sé ou mesmo familiares de judeus eram deportados para a colônia dos trópicos. É lógico, devidamente rebatizados de novos cristãos e com sobrenomes de animais, plantas e situação geográfica. Exemplo: os Figueiras, os Coelhos e os Costas.
Um fato bem retratado no filme Desmundo era o destino das órfãs de famílias judias: eram obrigadas pela Igreja Católica a se casarem com os colonos e procriar em favor do povoamento do país.
Os presos políticos eram os inimigos da Coroa Portuguesa, pois os lusitanos não eram felizes com a Monarquia e a Nobreza. E o que indignava mais os conterrâneos de Camões era o fato de nobres e integrantes da Corte, praticarem crimes financeiros, sexuais ou homicídios e o Poder Judiciário em geral engavetar os processos, quando haviam.
A oposição se manifestava inclusive em jornais e organizações, mas descobertos eram processados e condenados ao exílio – ou África ou Brasil.
Essa gente quando vem para o nosso país, está na mesma situação dos emigrantes ingleses que fundaram os Estados Unidos, não tem direito a retorno e aqui tentam refazer sua vida. E na medida do possível lutam para que a sociedade seja melhor que na Metrópole.
Há os criminosos comuns junto com essas pessoas? Há, mas não é a maioria, mas também não podemos dizer que esses imigrantes também foram imunes à corrupção.
Mas o sistema de corrupção brasileiro surgiu de fato quando a Família Real veio para o país, fugindo de Napoleão Bonaparte. Ao chegar aqui, os nobres e membros da corte inflacionaram o mercado imobiliário e econômico, estabeleceram trocas de cargos e favores em troca de apoios e serviços, já que não tinham muito dinheiro para pagar as pessoas.
Com a Família real aqui Títulos de Nobreza foram dados à vontade. Desapropriações de casas e terrenos sem indenização aos proprietários também aconteceram.
Lei a lista de consumo diário da corte: 620 galinhas por dia, e só o jovem D. Sebastião comia sozinho 3 delas, mais 4,5 quilos de carne de porco, 2 chouriços, 200 gramas de manteiga, 3 quilos de pães, e 200 gramas de presunto.
Frei Vicente do Salvador cita em seus registros que Tomé de Sousa teria trazido para o país mil colonos e apenas 40 eram prisioneiros comuns. O mesmo atesta Gilberto Freyre em Casa Grande Senzala.
Por isso, foi por causa de gente como as que o Raul Cortes convive hoje na inauguração da Daslu, que a corrupção surgiu. O povo, o cidadão comum, nada tem haver com isso.
Pouco citada, foi à corrupção um dos motivos dos vários movimentos de independência, pois os brasileiros já não agüentavam suportar o peso de carregar gente tão inútil, que tinha nobreza só em títulos, pois nos modos e costumes, acabaram com o Brasil.
Por favor, não estou aqui perdoando os crimes desses colonos contra os índios e negros – pois duvido que até Deus fosse misericordioso – mas sem duvida alguma, não são eles genealogicamente falando que criaram a corrupção sistemática como podemos ver nesses episódios em Brasília e estados e municípios.


Marco Antonio dos Santos, membro do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de Bebedouro/SP

quinta-feira, junho 09, 2005

PUBLIC ENEMY - RAP INTELIGENTE!

Fight the Power



Public Enemy - Fight The Power
www.publicenemy.com
1989 the number another summer (get down)Sound of the funky drummerMusic hittin' your heart cause I know you got sould(Brothers and sisters, hey)Listen if you're missin' y'allSwingin' while I'm singin'Givin' whatcha gettin'Knowin' what I knowWhile the Black bands sweatin'And the rhythm rhymes rollin'Got to give us what we wantGotta give us what we needOur freedom of speech is freedom or deathWe got to fight the powers that beLemme hear you sayFight the power
Chorus
As the rhythm designed to bounceWhat counts is that the rhymesDesigned to fill your mindNow that you've realized the prides arrivedWe got to pump the stuff to make us toughfrom the heartIt's a start, a work of artTo revolutionize make a change nothin's strangePeople, people we are the sameNo we're not the sameCause we don't know the gameWhat we need is awareness, we can't get carelessYou say what is this?My beloved lets get down to businessMental self defensive fitness(Yo) bum rush the showYou gotta go for what you knowMake everybody see, in order to fight the powers that beLemme hear you say...Fight the Power
Chorus
Elvis was a hero to mostBut he never meant shit to me you seeStraight up racist that sucker wasSimple and plainMother fuck him and John WayneCause I'm Black and I'm proudI'm ready and hyped plus I'm ampedMost of my heroes don't appear on no stampsSample a look back you look and findNothing but rednecks for 400 years if you checkDon't worry be happyWas a number one jamDamn if I say it you can slap me right here(Get it) lets get this party started rightRight on, c'monWhat we got to sayPower to the people no delayTo make everybody seeIn order to fight the powers that be
(Fight the Power)

quarta-feira, junho 08, 2005

STOKELY CARMICHAEL

PODER PARA O POVO PRETO



“É 4p, poder para o povo preto para o povo preto”
(refrão 3x) DMN - 4P


Aos 26 anos, cansado da violência de mais uma detenção que sofre usando a tática da não violência o estudante Stokely Carmichael diz que cansou de dar a outra face e grita: “Povo negro deste país, uni-vos. Reconheçam seu papel e construam uma nova sociedade”. Ele também disse que os afro-americanos tinham que organizar sua própria luta, sendo protagonistas do movimento e brigar para chegar ao poder nos Estados Unidos da América: Poder Para o Povo!
Esse discurso foi feito no dia 16 de julho de 1967, em Greenwood, estado do Mississipi, na saída de sua 27ª detenção, Carmichael e seus companheiros tinham sido maltratados pelas forças policiais. Ele era líder do SNCC Student Nonviolent Coordinating Committee (Comitê Conjunto de Não Violência dos Estudantes) - e ligados ao Movimento pelos Direitos Civis coordenado pelo reverendo batista Martin Luther King. Mas quem era esse jovem tão contundente no discurso?
Stokely Carmichael nasceu no dia 29 de junho de 1941 em Trinidad Tobago, em Porto de Espanha, filho de Adophus – um carpinteiro e Mabel, dona de casa. Os dois deixaram o país para emigrarem para os Estados Unidos, colocando o filho aos cuidados da avó materna. Com 11 anos foi morar com a família no bairro Harlem, em Nova Iorque. Depois se mudam para Morris Park, de vizinhança de maioria branca e italiana. Lá é descritos por vizinhas como agressivo e selvagem, mas na verdade se defendia dos ataques dos filhos delas. Cursa o colegial numa High School do Bronx, onde passa o tempo lendo Charles Darwin e Karl Marx, reclamando da leitura fútil oferecida aos alunos. Lá ele passa a conviver com jovens brancos de classe média de formação liberal. Percebe que apesar da boa vontade expressada por eles, tem barreiras de relacionamento por ser um negro e seus amigos apenas teorizam sobre sua situação étnica, sem compreendê-la realmente. Stokely dizia que eram liberais intectualmente, mas culturalmente preconceituosos. Com 19 anos começa a estudar na Universidade de Howard, após ser rejeitada em varias instituições de ensino racistas. Já no primeiro ano como calouro, participa do CORE – Congress of Racial Equality (Congresso da Igualdade Racial), realizado na primavera em 1960. Em pouco tempo se liga a SNCC.
No ano de 1961, Carmichael entra de cabeça na militância e se torna um Freedom Rides – viajantes da liberdade. É um grupo inter-racial formado por jovens que viajavam aos estados norte americanos mais conservadores e adeptos da segregação étnica; e desafiavam as leis locais freqüentando lugares proibidos aos afro-americanos. Essa pratica ficou conhecida como “sit-in”. Invariavelmente eram humilhados, espancados e detidos. Mesmo assim não revidavam no uso da tática de não violência que os lideres negros cristão orientavam – deveriam como Jesus Cristo – dar a outra face. O reverendo Martin Luther King se inspirou na luta de independência de Índia protagonizada pelo advogado pacifista Mahatma Gandhi.
Como liderança é designado para o Condado de Lowndes, no estado do Alabama, onde cadastra 3 mil negros sem direito de participar das eleições. Tem o primeiro desentendimento com sua entidade, e opta por uma estratégia própria para cumprir a tarefa. Irrita-se com a tática de resistência passiva frente ao espancamento rotineiro dos militantes. Acha a estratégia equivocada.
Em 1966, mesmo sendo um critico da SNCC, Carmichael é escolhido presidente no lugar de John Lewis, eleito congressista pelo estado da Geórgia.
Mas sua critica a não violência acaba incomodado Luther King, que classifica o rapaz como radical e tinha medo que ele pudesse por tudo a perder. Por outro lado, o discurso de Stokely atraia cada vez mais jovens para a luta pelos Direitos Civis.
A postura e os discursos de Malcolm X influenciaram decisivamente Carmichael, encontrando nele um líder adequado para sua forma de combate ao racismo. O líder mulçumano afro-americano foi assassinado com 14 tiros, no dia 21 de fevereiro de 1965.
A atitude do jovem James Meredith, que recém admitido na Universidade do Mississipi, mudou o destino de Carmichael. Ele tentou sozinho marchar pelos Direitos Civis entre as cidades de Memphis e Jackson, sendo ferido por partidários contrários a integração racial. Stokely foi designado à líder um grupo voluntário para fazer o mesmo trajeto, mas em uma das paradas foi detido pela 27ª vez em sua militância.
No dia 16 de junho de 1967, na saída da prisão, em Greenwood três mil pessoas o aguardam. Lá faz o discurso reclamando que há seis anos falavam de “liberdade” e não via perspectivas no movimento com a tática de não violência contra políticos e policiais racistas, que apontavam mangueiras de água e cães para atacá-los. E Stokely gritou a frase que marcaria sua militância: “o que nós queremos agora é poder para o povo negro!”. Está lançado o Movimento Black Power.
A multidão imediatamente repetiu a frase “Poder Negro”, ecoando nas comunidades de Oakland e Newark. A frase significou para os conservadores e setores do movimento pelos direitos civis como: racista, provocativa e violenta. Os meios de comunicação exploram exaustivamente o termo Poder Negro e editoriais escritos sobre o significado dele, traduziam como racismo ao inverso – contra os brancos. As contribuições financeiras aos grupos de direitos civis feita por brancos, caíram. Candidatos comprometidos com a política de segregação racial obtiveram vantagem na eleição de novembro.
Imediatamente Martin Luther King classificou a frase de “escolha infeliz de palavras” e Roy Wilkins da NAACP – National Association for the Advancement of Colored People - (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) – também reprovava o radicalismo de Carmichael e o chamando de racista negro. Em resposta, Carmichael critica Luther King chamando de “moderado demais” e diz que a não violência é ineficiente.
Stokely acaba indo a convite aos paises Vietnam, China e Cuba, e lá declara que os negros deveriam treinar guerrilhas para defender suas comunidades e estar pronto para morrer por isso.
A SNCC destitui Stokely e ele acabou nesse tempo se ligando aos Panteras Negras, após conhecer Huey P. Newton e Bob Seale – lideres do grupo. Nomeado ministro de honra e critica publicamente a participação dos americanos na Guerra do Vietnam e conclama os negros a não se alistarem. Por conseqüência é detido por dez meses e seu passaporte retido pelas autoridades. Sua passagem nos Panteras Negras dá estrutura ideológica ao grupo e suas propostas são incorporadas as deles, dando um formato de combate ao racismo até hoje copiado por organizações negras não governamentais. Com tempo ele acha que os Panteras eram radicais o suficiente e deixa o grupo, rumo à Guiné, África, dizendo “A América não pertence aos negros!”, convidando todos os afro-americanos a seguir seu exemplo. Ainda sobre os Panteras Negras ele diz que a linha dogmática do partido permitia aliança com grupos radicais brancos, o que ele não concordava.
Na África conhece os militantes negros marxistas Sekou Tourc e Kwame Nkrumah. Em Gana casa-se com Miriam Makeda – cantora sul-africana e assume o nome de Kwame Turcem no ano de 1978.
Na África desenvolve a teoria de que somente existiria Poder Negro em países africanos de orientação ideológica marxista. Completando a idéia, afirmava que os negros deveriam se unir somente com negros para uma verdadeira liberdade cultura e desenvolvimento sócio econômico. Morre de câncer na próstata no dia 15 de novembro de 1998, em Guiné, ainda acusando que a doença era fruto do imperialismo norte-americano. Tinha 57 anos
Carmichael deixou entre suas obras os livros “Poder Negro” escrito em 1967, em companhia Charles Hamilton. No livro ele defende a ideia da Beleza Negra, como o lema “Black Is Beautiful!” – Negro é Bonito. Propôs que os negros abandonassem os valores e estilo da sociedade branca e que se adotassem modelos e modos de vestir africanos, inclusive no penteado que é até hoje conhecido como “Black Power”; em 1971 escreve “Stokely Speaks: Black Power Back to Pan-Africanism”. Nesta publicação ele faz uma analise marxista do Pan Africanismo.
Na ocasião do lançamento do Livro Poder Negro para uma plateia de estudantes negros ele declara “quando você fala em Poder Negro, fala em construir um movimento que destruirá o que a sociedade ocidental construiu”. Era também tinha influencia de Marcus Garvey e o Nacionalismo Negro pregado nas décadas de 20.
Stokely Carmichael é uma das pessoas que influenciaram muito o Movimento Negro no Brasil e seus pensamentos podem ser observados no MNU – Movimento Negro Unificado, Unegro e Conen, que mantém a proposta de protagonismo afro brasileiro nas lutas sociais. Mas infelizmente para a grande maioria, o que restou do Movimento Black Power é só um penteado a ser usado, inclusive entre os afro-americanos jovens.

segunda-feira, junho 06, 2005

SANTO SUBITO DA REFORMA AGRÁRIA


Ao ouvir o publico a gritar “santo súbito” reivindicando a canonização do Papa João Paulo II, lembrei de outros candidatos e que ainda aguardam na fila. E um deles em especial, não há nem pedido: é o padre Josimo Moraes Tavares, assassinado no dia 10 de maio de l986, na sede da Comissão Pastoral da Terra, em Imperatriz, Maranhão. Ele foi morto pelos mesmos motivos que levaram o óbito a irmã Dorothy Stang - apoio à luta dos trabalhadores rurais e posseiros.
A morte do padre lembrou-me do romance de Gabriel Garcia Marques, Crônica de uma Morte Anunciada. Sabia-se que ele ia ser morto por estar contrariando interesses. Sabia-se quem iria financiar o assassinato. Sabia-se que o autor seria um pistoleiro de aluguel de tocaia. Só não se sabia a hora, o local e o dia do assassinato.
O padre era vigário de São Sebastião do Tocantins onde foi trabalhar desde 1983. Na paróquia passou a defender os trabalhadores rurais e os pequenos posseiros, que reivindicavam junto ao Governo Federal, a inclusão no Plano Nacional de Reforma Agrária.
Os mandantes de sua morte foram: - vereador Osmar Teodoro da Silva, Wilson Nunes Cardoso e Arlindo Gomes da Silva - todos produtores rurais. Contrataram o pistoleiro de aluguel, Geraldo da Costa, a quem foi oferecida à quantia de 50 mil cruzeiros – moeda da época.
No julgamento no assassino, no dia 20 de abril de l988, um júri formado de quatro homens e três mulheres, depois de 14 horas de sessão condenaram somente o pistoleiro a 18 anos e seis meses de prisão. Os mandantes nunca foram condenados.
A mãe do padre, a dona Olinda Moraes Tavares tentou uma ação de responsabilidade civil contra a União e o estado de Goiás, reivindicando indenização, pois em 1985, ele teria denunciado as autoridades, era jurado de morte. A resposta do Poder Judiciário foi irônica: o responsável pela morte era o próprio padre, que, “em atitude provocadora, recalcitrante e reincidente, afrontou os poderes constituídos da municipalidade e do estado de Goiás para adentrar num gesto de provocação e culminar com seu próprio assassinato”.
Por isso é Josimo praticou o cristianismo, denunciando e optando pelo lado mais fraco nos conflitos, como Cristo, merece ser santo da Reforma Agrária. Mas como são exigidos milagres para canonização, ele é apenas um mártir – assim como Dom Oscar Romero - cardeal de El Salvador - também assassinado, em 1985.

Autor: Marco Antonio dos Santos, 35 anos, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra/SP.

Caetano Veloso - Jorge de Capadócia


Jorge sentou praça na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia (2X)

Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham maõs e não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcacem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejao
E nem mesmo o pensamentoeles possam ter para me fazeram mal
Armas de fogomeu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
pois eu estou vestido com as roupas e as armas de jorge
Jorge é de capadócia

http://www.letras.mus.br/

sexta-feira, junho 03, 2005

COTAS: “NÃO É ALGO CONTRA OS BRANCOS, É A FAVOR DOS NEGROS.”


A frase proferida da ultima sabatina do jornal Folha de São Paulo pelo ministro da Cultura Gilberto Gil é perfeita para resumir a situação das políticas de promoção da igualdade racial. A adoção de Cotas como forma de inclusão social e étnica nas universidades públicas é uma medida apesar de polêmica, necessária para a sociedade brasileira, principalmente para população negra. O fim do regime de escravidão oficial para negros no Brasil, sem qualquer tipo de reparação econômica criou situações hoje, onde os alunos dos cursinhos pré-vestibulares mais caros são praticamente os donos das vagas no Ensino Superior Gratuito, inacessíveis aos afro-descendentes.
A situação do afro-brasileiro 117 anos depois da abolição não é confortável. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada em 1999, 68,85% dos indigentes são negros e da população pobre 63,63% é desta etnia. Nos dados IDH – Indice de Desenvolvimento Humano de 1999 a expectativa de vida no Brasil é de 68 anos, mas para brancos fica em torno de 71,23 anos e para os afro-descendentes é de 65,12 anos. Na renda per capita também há diferenças: para os brancos é de 2,99 salários mínimos e para os negros a média cai para 1,28..
No ambiente acadêmico uma pesquisa realizada este ano pela Unicamp, com base nos dados do Provão de 1999 a 2001 descobre que apenas 2,5% dos estudantes são negros e 14,8% pardos. O quadro só melhora nos cursos de Letras, Pedagogia, Matemática e Física. No curso de Medicina a participação de afro-descendentes é muito pequena: 0,9% de negros e 12.3% de pardos.
Os Governos tem até tomado atitudes na tentativa de diminuição dessas diferenças. A criação do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra em 1984; da Fundação Cultural Palmares em 88; da Coordenadoria Especial do Negro na Prefeitura de São Paulo em 89; o Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra em 95e por fim em 2003, a SEPPIR – Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial são os exemplos.
Na legislação brasileira as leis criadas até agora apenas penalizam a discriminação e não atinge as causas – o preconceito, a intolerância religiosa e o racismo. Da lei Afonso Arinos à Lei Caó tivemos é claro um avanço, onde a discriminação passa de infração penal a crime federal. Mas exceto a Lei 10.639 determinando a obrigatoriedade do Ensino da História da África e do Negro no Brasil nos currículos escolares, a Constituição Federal é numa analise preliminar até omissa na necessidade de promoção da igualdade racial.
Os programas sociais governamentais, considerados universalistas, ou seja, que atinge a população negra usando apenas critérios sócios econômicos tem se revelam ineficientes. O problema é o que os nortes americanos chamam de Glass Ceiling – barreiras invisíveis, que impedem negros e brancos sejam beneficiados da mesma forma, devido as conseqüências estruturais do racismo.
É necessário avançar na diminuição das desigualdades étnicas e um dos caminhos são as ações afirmativas. É lógico que a palavra “cotas” arrepia muita gente. Há os que alegam inconstitucionalidade e outros de que o mecanismo causa injustiças.
Mas as cotas já são aplicadas no país há muito tempo. É de 1968 a lei federal 5.465(já revogada) que obrigava os estabelecimentos de ensino médio agrícola e as escolas superiores de agricultura e veterinária, reservar 50% das vagas aos agricultores ou filhos destes. Existem ainda as leis: 9.100/ que reserva 20% das candidaturas para mulheres e a 8.213/91 de 1991 que determina cota para contratação de pessoas portadores de deficiências em empresas com mais de cem empregados.
Há vários projetos em tramitação quanto o estabelecimento de cotas para negros, onde destaco o projeto do senador do Paulo Paim – o Estatuto da Igualdade Racial – fruto de várias reivindicações do Movimento Negro. Ele já percorreu várias comissões e aguarda a vez para ir ao plenário para a sua conseqüente votação.
Existe ainda a proposta do Governo Federal, regido pelo Ministério da Educação, que contempla parte das ações afirmativas. Mas desaponta o recente recuo do ministro Tarso Genro, retirando a reserva de vagas e dando um prazo de 10 anos, para as universidades publicas incentivem a inclusão social e racial.
Entretanto, a Ong Educafro levantou uma reivindicação em maio deste ano, interessante: a inclusão étnica também na iniciativa privada. As multinacionais mantém programas de promoção de igualdade racial, enquanto nos bancos brasileiros, por exemplo, nota-se uma ausência de funcionários negros. Exceto aqueles modelos que aparecem em peças publicitárias.
Daqui algumas semanas acontecerá a Primeira Conferencia Nacional da Promoção da Igualdade Racial, a ser realizada em Brasília, nos dias 30 de junho e 1,2 de julho. É preciso dar um impulso as ações de eliminação das diferenças étnicas, reconhecendo, porém que não é uma tarefa apenas dos governos – o setor empresarial também tem que dar sua contribuição. Senão, conseguiremos a graduação de profissionais afro-brasileiros que não serão absorvidos por um mercado de trabalho omisso na questão racial.


Autor: Marco Antonio dos Santos, 35 anos, membro do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra de São Paulo, ex-presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra de Bebedouro/SP.

quinta-feira, junho 02, 2005

QUAL A RAÇA DO RONALDINHO?

Jorge Aragão - Identidade
“Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade”

Venhamos e convenhamos: faz tempo que não aparece um jogador de futebol tão frutífero em polêmicas. Ronaldo Nazario, mal saiu das paginas de jornais após o seu suposto fim de casamento com a modelo Daniela Cicarelli, agora ele vem com a sua auto declaração como brasileiro branco. Se bem que acabou após repercussão da frase, se reafirmando como negro. Mas o assunto me leva novamente a refletir sobre o que é raça?
Primeiro é preciso explicar a origem do termo raça. Vem do árabe da palavra “rá s”, que pode ser entendida como cabeça, chefe do clã. O termo teria sido introduzido na Península Ibérica – Portugal, Espanha – no século XII, durante ocupação desse território por árabes.
Após a reconquista da região, as famílias nobres tanto espanhóis, quanto portuguesas passaram a usar o termo “razza” para definir a família do qual descendia esse ou aquele individuo. Ter “razza” era sinal de ter berço, nobreza. Não era usado para classificar pessoas pela cor de pele ou outras características físicas.
Acreditasse que circunstancias políticas, econômicas e até religiosas é que deve ter levado a humanidade usar o termo raça para dividir categorias humanas. Muitos cientistas acabaram se apropriando do termo raça para criarem sem um profunda pesquisa uma hierarquização dos seres humanos.
Os pensadores como o francês Lapouge Gobineau, o britânico Robert Knox e os norte-americanos Louis Agassiz e Samuel George Morton, passaram a desenvolver, principalmente entre os séculos XVIII e XIX suas teorias racistas, mal ancoradas em dados científicos e repletas de superstições Isso foi usado inclusive para justificar a exploração de outros povos.
A verdade começou a ser construída na Antropologia - ramo da ciência que estuda os grupos étnicos humanos – que através de Franz Boas. Ele um alemão e judeu, radicado nos Estados Unidos, no clima do nascimento e fortalecimento do Nazismo, propôs a separação da questão de raça e da cultura. Boas constrói o conceito que raça não é um fator biológico e sim um conjunto de características culturais.
O fim dessa confusão acabou ocorrendo em 1950, quando foi publicado o documento “The Statement Of Race” que propõe a substituição do termo raça por etnia. O estudo publicado nesse documento comprava que grupos nacionais, religiosos, geográficos, lingüísticos e culturais não coincidem com o que era definido antes como raça.
Há quem defenda inclusive no mundo cientifico que a escala evolutiva das etnias, por exemplo, branca, preta e amarela – tidas como as principais no planeta não tem que necessariamente seguir o mesmo rumo. Ou seja, o modelo de civilização européia não é uma camisa de força. Povos na Ásia, África, Austrália e na América poderiam senão sofressem a intervenção através do colonialismo terem se desenvolvido, mesmo com características diferente. Exemplo: o grau de organização política e econômica dos incas dá pista de que poderia ter sido o Peru antes da invasão da Europa.
Ah... Quase ia me esquecendo – qual a raça do Ronaldo? Bem se olharmos para sua mãe e pai – perceberemos visualmente que ele descendente de uma raça – família negra. Mas se ele não se assume como tal, não é por força de decreto ou lei que isso acontecerá. Fazer isso é retornarmos ao modo operante dos nazistas e cientista defensores da raça pura.
Entretanto na luta que o Movimento Negro tem feito pela auto estima do afro brasileiro, tenho que dizer: Ronaldinho cometeu um pênalti verbal com sua declaração. É desculpável! Ninguém sai de um casamento com aquela musa que é a Cicarelli sem ficar meio perdido.

Marco Antonio dos Santos, 35, militante negro, membro do Conselho Estadual de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra de São Paulo.
Publicada na Coluna Preto no Branco – Jornal Gazeta de Bebedouro

Sandra de Sá - Olhos Coloridos

Sandra de Sá - Olhos Coloridos
Os meus olhos coloridosMe fazem refletirEu estou sempre na minhaE não posso mais fugir
Meu cabelo enroladoTodos querem imitarEles estão baratinadosTambém querem enrolar
Você ri da minha roupaVocê ri do meu cabeloVocê ri da minha peleVocê ri do meu sorriso
A verdade é que você, Tem sangue criouloTem cabelo duroSarará crioulo
Sarará crioulo, sarará crioulo (2x)

quarta-feira, junho 01, 2005

Escrava Anastácia, santa ou lenda?




O livro “Santo de Casa Também Faz Milagre: A Construção Simbólica da Escrava Anastácia” escrito pela Mônica Dias de Sousa, levanta uma hipótese do culto a Escrava Anastácia tenho sido criado na década de 70. Uma das descobertas é referente a imagem mais conhecida dela, que pode ser uma reprodução tirada do livro “Voyage Auour Du Munde”, escrito pelo pesquisador francês Etienne Arago, publicado nu século XIX.
Oficialmente a historia de Anastácia foi recuperada em 1968 na exposição sobre os 80 anos da Abolição da Escravatura, na Igreja do Rosário, cidade do Rio de Janeiro. A partir dali começou a devoção que hoje é estimada em 28 milhões de fiéis. Há inclusive um santuário da Santa Negra, no bairro Vaz Lobo.
A historia da Anastácia começa em 1740, quando um navio negreiro de nome Madalena, desembarca no porto do Rio de Janeiro, trazendo a bordo a princesa Delminda, oriunda de uma tribo bantu, da família do rei Galanga. Ele viria ser conhecido depois como Chico Rei – personagem da historia oficial de Minas Gerais, responsável pela alforria de seu povo através da extração de ouro.

Nesta mesma embarcação, juntos aos outros 112 pessoas escravizadas, Delminda foi exposta aos compradores de escravos, onde acabou comprada por mil réis pelo feitor Antonio Rodrigues Velho, representante de Joaquina Pompeu.

Porém, antes de entregá-la, ele a teria estuprado engravidado. Por ser europeu e loiro, o feitor, seria o responsável pelos olhos azuis de Anastácia.
Anastácia nasce no dia 12 de maio de, 1741, considerada bonita desde pequena. Mas sua beleza acaba atraindo os desejos de Joaquim Antonio, filho de Dona Joaquina. A partir desse momento passa a ser assediada de várias formas, inclusive com oferta de dinheiro por sua virgindade.

Após sua recusa sistemática, Anastácia repete o destino da mãe – é violentada. Mas durante a violência sexual ela acaba ferindo o rosto do jovem.
Como castigo, Anastácia é obrigada a usar uma mascara, - a famosa descrita nas gravuras de Arago, sendo apenas retirada para que pudesse alimentar-se. Adoece por não não suportar o instrumento de martírio e a carga de trabalho. É ainda levada para o Rio de Janeiro para tratamento médico, mas morre mesmo assim. Seu corpo é enterrado na Igreja do Rosário.
Na Igreja não há registro oficial sobre o fato, mas há uma ocorrência de incêndio ainda no século XVIII, que segundo informações oficiais destruiu também toda documentação.
Verdade ou lenda o culto a Escrava Anastácia é forte em várias regiões brasileiras. Ela é referencia tanto a católicos quanto aos praticantes de religiões de matriz africana. O que é verdadeiro é a violência sexual que era submetiam as mulheres africanas, que é descrita por Gilberto Freyre no livro Casa Grande & Senzala.


PRECES
Prece para se livrar dos inimigos visíveis e invisíveis
Ó virgem santa virgem santa Princesa Anastácia
Vós que tendes nas mãos o poder dos milagres,
Do bem, do amor e da caridade Fazei com que os meus inimigos
Não tenham forças nas mãos para me atingir...
Não tenham forças nos olhos para me verem...
Não tenham forças nos pés para me alcançarem
Bem aventurada santa Anastácia
Primeira e única princesa absoluta do cativeiro
Eu vos peço pelo sofrimento que passates no cativeiro
Livrai-me de dia e de noite dos meus possíveis inimigos
Ocultos e declarados, visíveis e invisíveis
Assim seja.